O preço do café deve continuar a subir nas próximas semanas, pelo menos até a colheita da safra deste ano, que deve começar em abril ou maio. A previsão vem da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), que aponta os eventos climáticos como os principais responsáveis pelo aumento nos preços, já que afetam diretamente a produção. Além disso, o aumento do consumo global, especialmente com a entrada de novos mercados como a China, também exerce influência.
De acordo com a Abic, essa pressão sobre os preços deve durar entre dois e três meses. Após esse período, é esperado que os preços se estabilizem, mas a redução nos valores só deve ocorrer com a safra do próximo ano.
O aumento no preço do café é notado desde novembro do ano passado, e não se trata de uma tendência exclusiva do Brasil, que é o maior exportador mundial de café, respondendo por quase 40% da produção global, seguido pelo Vietnã (17%) e pela Colômbia.
Safra e Impactos Climáticos
Em 2020, a safra brasileira foi recorde, mas os anos seguintes foram difíceis para a produção, devido às condições climáticas adversas. Em 2021, uma geada destruiu quase 20% da safra de café arábica, e em 2022 a recuperação não foi completa – o que costuma levar dois anos. Em 2023, os efeitos do El Niño, com seca prolongada e altas temperaturas, prejudicaram ainda mais a produção, e, em 2024, o fenômeno La Niña causou chuvas intensas.
Segundo o presidente da Abic, Pavel Cardoso, a safra deste ano será ligeiramente menor do que a do ano passado, em razão dessa sequência de problemas climáticos. “Esses quatro anos de desafios climáticos, somados ao aumento da demanda global, explicam essa escalada nos preços do café”, afirmou.
Aumento de Custos e Preços
Com os impactos climáticos, os custos de produção aumentaram, o que refletiu em preços mais altos para a matéria-prima. A Abic informou que a indústria enfrentou aumentos de mais de 200% e teve que repassar parte desse custo ao consumidor, o que representou um aumento de cerca de 38%.
Esses fatores contribuíram para a alta nos preços da commodity nos mercados internacionais, o que se reflete no preço pago pelo consumidor. Na Bolsa de Nova York, os contratos de café arábica atingiram valores recordes, com o preço chegando a US$ 3,97 por libra-peso.
Cardoso comentou sobre esse aumento histórico, atribuindo-o à escassez de oferta e ao forte ingresso de fundos financeiros, o que gerou os atuais preços altos. No entanto, ele destacou que essa escalada não durará indefinidamente, mas não se sabe quando vai parar.
Expectativas para o Mercado
A Abic espera que a safra de 2025 ajude a estabilizar os preços. Além disso, as perspectivas para a safra de 2026 são positivas, com possibilidade de superar a produção recorde de 2020, o que pode ajudar a aumentar a oferta e reduzir os preços. Enquanto isso, os consumidores continuarão a enfrentar preços elevados, pois a indústria ainda precisará repassar custos altos.
“Até a chegada da safra, podemos esperar alguma volatilidade, mas com a colheita, a previsão é de uma estabilização. Para 2026, a expectativa é de uma grande safra”, afirmou Cardoso. Ele também destacou que, devido ao aumento de custos de produção, os preços vão continuar elevados, refletindo em repasses para os consumidores.
Dados do Setor
Entre novembro de 2023 e outubro de 2024, o consumo de café no Brasil cresceu 1,11%, de acordo com dados da Abic. O Brasil, além de ser o maior produtor e exportador de café, é o segundo maior consumidor mundial, com um consumo de 21,9 milhões de sacas de café em 2024, atrás apenas dos Estados Unidos. A média de consumo por pessoa no Brasil foi de 1.430 xícaras de café por ano.
A indústria de café torrado no mercado interno faturou R$ 36,82 bilhões em 2024, um aumento de 60,85% em relação ao ano anterior, devido ao aumento do preço do produto. No mercado externo, o faturamento foi de R$ 134 milhões.
Os cafés especiais tiveram um aumento de 9,80%, os cafés gourmets subiram 16,17%, os cafés superiores aumentaram 34,38%, e os cafés tradicionais e extrafortes registraram alta de 39,36%. O preço dos cafés em cápsula subiu 2,07%. Nos últimos quatro anos, o custo da matéria-prima aumentou 224%, enquanto o preço do café no varejo subiu 110%. No último ano, o preço do café torrado e moído subiu 37,4%, um aumento superior à média da cesta básica, que foi de 2,7%.