PF encerra operação no Rio Madeira; famílias extrativistas denunciam violência e destruição de meios de subsistência

Ação da Polícia Federal destruiu 277 dragas e causou prejuízo estimado de R$ 1 bilhão ao garimpo ilegal, mas moradores e autoridades locais criticam métodos e impacto sobre comunidades extrativistas

Terminou nesta quarta-feira (24) a Operação Boiúna, deflagrada pela Polícia Federal (PF) com o objetivo de combater a mineração ilegal de ouro no leito do Rio Madeira, no estado do Amazonas. Iniciada no dia 15 de setembro, a operação resultou na destruição de 277 dragas utilizadas em atividades ilegais de garimpo na região.

Segundo a PF, os prejuízos diretos às estruturas criminosas são estimados em R$ 38 milhões, conforme laudos periciais técnicos. O impacto financeiro total ao crime organizado, somando perdas patrimoniais, ouro extraído ilegalmente, danos ambientais e lucros cessantes, foi calculado em R$ 1,08 bilhão.

Impacto ambiental e econômico

A operação foi coordenada pelo recém-inaugurado Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia (CCPI) e contou com apoio da Força Nacional de Segurança Pública, Polícia Rodoviária Federal, Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério Público do Trabalho e CENSIPAM.

A Defensoria Pública do Amazonas, no entanto, contesta a eficácia e a forma como a ação foi conduzida, destacando os danos ambientais e sociais causados.

“O chamado ‘impacto bilionário’ atinge, sobretudo, os mais pobres, colocando-os em ainda maior vulnerabilidade. A operação gera um efeito ambiental extremamente nocivo: as explosões despejam óleo, mercúrio e baterias nos rios, comprometendo a fauna, a flora e o acesso à água potável e ao peixe, base da alimentação dos ribeirinhos”, afirmou o defensor público geral Rafael Barbosa.

Críticas à condução da operação

Durante a operação, diversas denúncias de abuso e violência foram feitas por moradores da região. A pescadora Iná Dias, moradora do município de Humaitá, relatou que sua filha foi atingida por spray de pimenta lançado dentro de sua casa.
“Foi uma ação bruta, sem respeito aos moradores do Rio Madeira. O helicóptero sobrevoava minha casa de madeira, jogavam spray de pimenta dentro. Minha filha teve alergia, e meu filho autista ficou assustado. Foi muito violento”, disse ela.

Pedidos negados pela Justiça

A Defensoria Pública do Amazonas chegou a entrar com um pedido no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para a suspensão da operação, alegando que o uso de explosivos transformava a área em uma “zona de guerra”. O pedido, no entanto, foi negado. Segundo Rafael Barbosa, a ação da PF não resolve o problema da atividade ilegal: “Sem políticas públicas que ofereçam alternativas de renda, essas comunidades acabam sendo empurradas novamente para o garimpo. A operação, por si só, não obstrui o ciclo da ilegalidade”, declarou.

Repercussão política

A operação também gerou reação de políticos locais, que classificaram a ação como excessiva e prejudicial às comunidades.

O deputado estadual Silas Câmara divulgou uma nota de repúdio nas redes sociais logo no início da operação, criticando a destruição de embarcações e os métodos utilizados. Segundo ele, a operação foi “criminosa” e trouxe prejuízos irreparáveis às famílias da região.

Já o prefeito de Manicoré, Lúcio Flávio, também se posicionou contra a operação. Em publicação nas redes sociais, ele se referiu aos garimpeiros como “extrativistas minerais familiares” e defendeu a busca por alternativas sustentáveis para os trabalhadores afetados.

Análises e medidas ambientais

Além das ações repressivas, a Operação Boiúna também incluiu medidas socioambientais. No dia 18 de setembro, equipes da PF estiveram na comunidade ribeirinha de Democracia, em Manicoré, onde coletaram amostras de cabelo, água e material biológico para análise do impacto do mercúrio na saúde da população.

Um levantamento recente do Greenpeace Brasil identificou mais de 500 balsas de garimpo ilegal operando no Rio Madeira, inclusive em áreas próximas a unidades de conservação e terras indígenas. A PF também utilizou drones para o mapeamento da região.

 

Erike Ortteip, Da Redação

 

 

 

 

 

 

Matéria: Erike Ortteip, da Redação

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