Aprendizado em queda: só 3% dos jovens do AM concluem o ensino médio com nível adequado

Anuário da Educação Básica revela baixo desempenho e carências de infraestrutura que desafiam a educação no estado

O estado do Amazonas, com dimensões continentais e realidades logísticas complexas, enfrenta um grande desafio na formação de seus estudantes. De cada 100 crianças que iniciam a trajetória escolar, apenas 68 concluem o ensino médio aos 19 anos e só 3% atingem o nível de aprendizado considerado adequado em língua portuguesa e matemática. Os dados, divulgados nesta semana pelo Anuário da Educação Básica 2024, elaborado pelo movimento Todos Pela Educação em parceria com a Fundação Santillana e a Editora Moderna, revelam que, apesar da expansão do acesso às salas de aula, a qualidade da aprendizagem continua aquém do necessário para garantir uma formação sólida.

O levantamento detalha um desempenho que cai progressivamente ao longo da vida escolar. Nos anos iniciais do ensino fundamental, 33,3% das crianças aprendem o esperado em português e matemática. Nos anos finais, esse índice despenca para 12,2%. Ao término do ensino médio, o quadro é ainda mais crítico, com apenas 3% dos alunos dominando os conteúdos básicos. A maior parte dessa etapa é oferecida pela rede estadual, que concentra 91,6% das matrículas, enquanto as instituições federais respondem por 3,3% e as privadas por 5,1%. Esses números indicam que a responsabilidade pela maior parte do ensino recai sobre o sistema público estadual, que enfrenta um cenário de enormes distâncias e desafios estruturais.

A infraestrutura das escolas aparece como um ponto sensível no estudo. O Amazonas possui 5.519 unidades de ensino, das quais apenas 11,8% têm esgoto ligado à rede pública. Outras necessidades básicas também têm cobertura limitada: 71,2% contam com energia elétrica regular e 71,6% têm salas climatizadas. Em relação a espaços para ciência e tecnologia, a realidade é ainda mais restrita. No ensino fundamental, apenas 17,2% das escolas dispõem de laboratório de informática e 6,8% contam com laboratório de ciências. No ensino médio, os índices sobem, mas permanecem distantes do ideal: 57,5% oferecem laboratório de informática e 43,4% têm laboratório de ciências. Essa carência de recursos impacta diretamente o desenvolvimento das aulas e a possibilidade de experiências práticas.

Outro ponto destacado pelo anuário é o chamado Fator Amazônico, que reúne aspectos como longas distâncias, alto custo de transporte e dificuldade de acesso a comunidades ribeirinhas e áreas de floresta. Essas condições afetam desde o fornecimento de material escolar e a manutenção dos prédios até o deslocamento diário de professores e alunos. Para muitas escolas, manter uma rotina regular de aulas é um desafio que exige planejamento diferenciado e investimentos adicionais, o que torna a gestão da educação no Amazonas mais complexa do que em outras regiões do país.

O levantamento também chama atenção para a relação entre infraestrutura e aprendizado. A ausência de serviços básicos, como rede de esgoto e espaços adequados para atividades científicas e tecnológicas, compromete o ambiente escolar e influencia o desempenho dos estudantes. Em localidades onde o acesso é difícil, problemas como interrupções no fornecimento de energia e a falta de climatização tornam o cotidiano ainda mais desafiador, principalmente em um estado marcado por altas temperaturas e longos períodos de cheia e vazante dos rios.

Com dados que abrangem matrículas, estrutura física e acesso a tecnologia, o Anuário da Educação Básica 2024 oferece um retrato amplo da situação educacional no Amazonas. O documento reforça a dimensão dos desafios que envolvem tanto a manutenção da permanência dos alunos nas escolas quanto a melhoria das condições de ensino. As informações servem de base para que gestores, instituições e sociedade compreendam com mais clareza os pontos críticos e avaliem estratégias voltadas ao fortalecimento da educação em todas as regiões do estado.

 

 

Por João Paulo Oliveira, da Jovem Pan News Manaus

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