O número de afastamentos por problemas de saúde mental entre profissionais da rede pública municipal de ensino de Manaus mais do que dobrou em cinco anos. De acordo com dados da Junta Médico-Pericial de Manaus, solicitados pelo Sinteam (Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Estado do Amazonas), os casos saltaram de 1.005 em 2019 para 2.372 em 2024 — um aumento de 136%.
O tema foi debatido ao vivo na tarde desta terça-feira, 7 de outubro, no programa De Olho na Cidade, da Jovem Pan News Manaus, que recebeu a presidente do Sinteam, Ana Cristina Rodrigues, e o presidente do Conselho Regional de Psicologia da 20ª Região (CRP-20), João Lucas, para analisar os dados e discutir o cenário alarmante nas escolas da capital.
“Infelizmente, são todas as faixas etárias”
“Infelizmente, são todas as faixas etárias. Nós temos tanto professores jovens quanto mais experientes. O problema não está na região onde o professor atua, mas no próprio sistema educacional, que é arcaico e adoece os trabalhadores”, afirmou Ana Cristina durante a entrevista.
Professores são maioria dos afastados
Dos 2.372 afastamentos registrados em 2024, 1.794 são de professores. Em 2019, o número era 949. Entre os principais diagnósticos estão transtornos ansiosos, depressivos e casos de burnout.
Durante o programa, Ana Cristina detalhou as condições que estão levando os profissionais ao esgotamento físico e emocional:
“Tem professor com carga compartilhada em até três escolas. São mais de 200 alunos, sem sábado, sem domingo, sem feriado. Ele não tem vida. E o HTP, que deveria ser respeitado, virou ilusão. Como um profissional vai planejar tudo com apenas quatro horas semanais?”
“Professor é cobrado como máquina”, diz presidente do CRP-20
O presidente do CRP-20, João Lucas, também destacou a sobrecarga de trabalho como um dos principais fatores de adoecimento entre educadores:
“Diferente de outros profissionais, o professor continua trabalhando em casa. Corrige prova, prepara aula, planeja atividades. Essa sobrecarga é real, contínua — e altamente adoecedora.”
João Lucas também apontou que as escolas públicas deixaram de ser ambientes seguros, tornando-se locais de pressão constante e, em muitos casos, de violência:
“Temos relatos de agressões entre alunos e professores, entre gestores e colegas, e até da presença do tráfico dentro das escolas. Isso não é exceção — está se tornando regra.”
Insegurança agrava o cenário de adoecimento
Tanto Ana Cristina quanto João Lucas reforçaram que a falta de segurança nas escolas é um fator que intensifica o sofrimento psíquico dos profissionais.
“Hoje, o ambiente escolar é inseguro. Temos casos de professores em pânico após invasões. Em uma escola, o portão foi forçado por criminosos e a sala foi invadida. Isso gera traumas profundos”, relatou João Lucas.
Alerta aceso
A entrevista desta terça-feira na Jovem Pan News Manaus acendeu um alerta importante: enquanto o adoecimento mental cresce entre os profissionais da educação, milhares de alunos também são impactados pela ausência de seus professores.
“Não dá mais para ignorar. Quando um professor adoece, adoece junto a qualidade da educação e o futuro das nossas crianças”, finalizou Ana Cristina Rodrigues.
Por Erike Ortteip, da redação da Jovem Pan News Manus