Um estudo publicado na revista científica Ecology and Evolution, desenvolvido por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) em parceria com o Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), aponta que as mudanças climáticas podem causar impactos severos sobre espécies amazônicas do gênero Dipteryx, conhecidas popularmente como cumaru e baru. As árvores da família Fabaceae, encontradas na Amazônia, no Cerrado e na Caatinga, desempenham papel essencial nos ecossistemas tropicais e possuem grande relevância econômica, ecológica e cultural.
Além de fornecer frutos e sementes usados na alimentação e na medicina tradicional, essas espécies têm madeira altamente valorizada pela indústria de móveis e construção civil. Segundo o estudo, as perdas econômicas decorrentes da redução de áreas adequadas para essas árvores podem ultrapassar US$ 597 bilhões nas próximas décadas, refletindo a profundidade dos impactos climáticos sobre as economias locais e globais.
Perdas de hábitat e vulnerabilidade
Utilizando modelagem de nicho ecológico e projeções climáticas para os próximos anos, os pesquisadores estimaram reduções expressivas de hábitat em várias espécies do gênero Dipteryx. Esse cenário ameaça cadeias produtivas, compromete a segurança alimentar de comunidades tradicionais e afeta o equilíbrio ambiental das florestas tropicais.
Por muito tempo acreditou-se que apenas uma espécie, Dipteryx odorata, era explorada para madeira e sementes, o que mascarava a utilização de outras espécies igualmente importantes”, explicou Catarina de Carvalho, pesquisadora do JBRJ e autora principal do estudo. “Nosso trabalho corrige essa visão e oferece um panorama mais preciso sobre a distribuição e a vulnerabilidade das espécies do gênero.”
Entre as espécies mais ameaçadas está a Dipteryx lacunifera, nativa da Caatinga, que pode perder até 40% de sua área de ocorrência nas próximas duas décadas. Mesmo as espécies amazônicas, consideradas mais resilientes, enfrentam ameaças crescentes associadas ao desmatamento, exploração seletiva e incêndios florestais.
Estratégias de conservação
A pesquisa, coordenada pela botânica Maristerra Lemes, do Laboratório de Genética e Biologia Reprodutiva de Plantas (LabGen/Inpa), integra uma série de estudos sobre espécies amazônicas de valor socioeconômico, como cupuaçu, castanha-do-pará, açaí e mogno.
Esses estudos buscam ampliar o conhecimento sobre a diversidade genética de espécies estratégicas para o equilíbrio ecológico e a bioeconomia da região, além de identificar formas de protegê-las diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas”, destacou Lemes.
O estudo também analisou eventos climáticos do passado, como o Último Máximo Glacial, para compreender como essas espécies responderam a períodos de variação ambiental extrema. Os resultados reforçam a importância da conectividade entre florestas, do manejo sustentável e da cooperação internacional para a conservação das espécies que ocorrem em mais de um país.
Desde 2016, o grupo de pesquisa vem avançando na taxonomia e conservação das espécies de Dipteryx, com resultados concretos como a inclusão das espécies amazônicas no Apêndice II da CITES, a avaliação de status de conservação pelo CNCFlora e a elaboração de pareceres de exploração não prejudicial pelo Ibama.
Apoio e financiamento
O trabalho contou com apoio do CNPq, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e da FAPERJ, por meio de diversos projetos de cooperação científica.
A pesquisa reforça o papel do Inpa como referência na produção de conhecimento científico sobre a biodiversidade amazônica e na busca por soluções baseadas na natureza para o enfrentamento das mudanças climáticas, integrando ciência, conservação e desenvolvimento sustentável.
Acesse o artigo completo: https://doi.org/10.1002/ece3.72105
Com informações da Assessoria de Comunicação
Por Karoline Marques, da redação da Jovem Pan News Manaus




