A decisão ocorreu após o Senado dos Estados Unidos rejeitar, nesta quinta-feira (6), uma proposta que buscava limitar a atuação militar norte-americana contra a Venezuela. Nas últimas semanas, o país vem ampliando exercícios, deslocando aeronaves e reforçando bases e estruturas militares no eixo Caribe / América Central, o que reacendeu o debate sobre eventual expansão de operações em áreas próximas ao território venezuelano. Ou seja, a resolução bipartidária pretendia, em sua essência, impedir o governo de Donald Trump de realizar ações militares contra a Venezuela sem autorização do Congresso. A proposta foi derrotada por 51 votos a 49, com apoio de apenas dois republicanos.
A medida, apresentada pelos senadores Tim Kaine, Adam Schiff e Rand Paul, buscava limitar o poder presidencial em operações militares externas. A republicana Lisa Murkowski foi a única do partido a votar com os democratas.
A votação ocorreu após Trump confirmar que autorizou a CIA a operar dentro da Venezuela para combater o tráfico de drogas e o fluxo ilegal de migrantes. O governo norte-americano também realizou ataques contra barcos suspeitos de contrabando próximos à costa venezuelana e mantém tropas e porta-aviões posicionados no Caribe.
Durante a votação, o senador Schiff alertou que a presença militar dos EUA na região poderia indicar uma tentativa de mudança de regime. Ele defendeu que o Congresso precisa autorizar qualquer ação dessa natureza. “Se a administração acredita que uma mudança de regime é necessária, precisa vir ao Congresso e declarar isso”, afirmou.
Na quarta-feira (5), autoridades do governo disseram a parlamentares que não há planos de ataques terrestres na Venezuela e que não existe base legal para operações dessa magnitude. Mesmo assim, o debate reacendeu preocupações sobre o uso de poder militar sem consulta legislativa.
O senador Kaine afirmou ainda que o Congresso poderá examinar uma resolução semelhante sobre a Nigéria, após Trump ordenar ao Pentágono que se preparasse para uma possível ação no país.
Nos últimos dois meses, os Estados Unidos informaram que realizaram pelo menos 16 ataques contra embarcações no Caribe e no Pacífico, resultando em 65 mortes. O governo classificou os alvos como “narcoterroristas”, mas não apresentou provas públicas que sustentem as operações.
Especialistas e parlamentares de ambos os partidos afirmam que os ataques podem violar leis internacionais e a Constituição norte-americana, que exige autorização do Congresso antes de qualquer intervenção militar prolongada.
Impactos para o Brasil e a região Amazônica
A tensão entre Estados Unidos e Venezuela coloca o Brasil em posição de atenção estratégica, devido à extensa fronteira entre os dois países e aos compromissos diplomáticos firmados dentro da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Segundo o cientista político Helso Ribeiro (presidente da comissão de relações internacionais OAB/AM), o episódio também acende o alerta para possíveis repercussões militares e humanitárias, caso o conflito se amplie.
“Ninguém quer fogo ao lado da sua casa. É o que a gente está vendo de certa forma com os ataques estadunidenses aos barcos da Venezuela. Esse tipo de ação gera incerteza e pode impactar diretamente os países vizinhos, especialmente o Brasil, que precisa manter vigilância sobre a estabilidade da região Amazônica”, disse Helso Ribeiro.
O especialista ressalta ainda que o Brasil deve reforçar o monitoramento das fronteiras e manter a diplomacia ativa para evitar qualquer escala de conflito na América do Sul.
“Esse cenário de tensão pode afetar também o comércio e a segurança na fronteira norte do Brasil. É importante que o país acompanhe de perto as movimentações militares e políticas, buscando sempre soluções diplomáticas e pacíficas para preservar a estabilidade regional”, destacou.
A Venezuela é membro da OEA, que possui cláusulas de defesa mútua entre os países. Os Estados Unidos também integram o bloco, o que torna o cenário diplomático mais complexo.
Além disso, existe um mecanismo de cooperação militar para combater o chamado “narcoterrorismo”, que, segundo Ribeiro, pode ser usado como justificativa para permitir a entrada de tropas americanas em mares ou territórios de outros países, sob o argumento de neutralizar ameaças maiores.
A presença militar norte-americana no Caribe e os ataques recentes contra embarcações venezuelanas reforçam o clima de instabilidade na região. Analistas afirmam ainda que o Brasil deve acompanhar a situação de perto para evitar impactos diplomáticos, econômicos e de segurança fronteiriça.
Conflitos e fugas migratórias nas fronteiras
A faixa de fronteira que conecta o Brasil à Venezuela, principalmente no eixo Pacaraima–Boa Vista (Roraima) e nas rotas que alcançam a Guiana, figura hoje como um dos pontos mais estratégicos da Amazônia Internacional. Desde a crise migratória venezuelana, o trecho se tornou porta de entrada de migrantes no território brasileiro, com fluxo constante de famílias que cruzam a divisa terrestre em busca de atendimento, regularização documental e novas oportunidades.
Por ser uma zona de alto êxodo e trânsito humano e de grande extensão territorial, a região passou a exigir maior presença das Forças Armadas e de órgãos federais, que atuam em monitoramento, assistência e fiscalização. Além da questão humanitária, autoridades brasileiras e organismos internacionais vêm registrando circulação de contrabando, tráfico de pessoas, garimpo em áreas limítrofes e rotas irregulares de combustível, elementos que aumentam a complexidade operacional na fronteira norte.
Esse mosaico geográfico Brasil, Venezuela, Guiana e Amazônia profunda, também é analisado em relatórios de segurança por se tratar de área sensível do ponto de vista geopolítico, especialmente devido à atuação de grupos armados em zonas remotas no lado venezuelano. Por isso, a área permanece sob atenção diplomática, militar e ambiental, tanto pelo Brasil quanto por países que monitoram o avanço de tensões e redes ilícitas no corredor pan-amazônico.
Fonte: Agência Brasil, G1, CNN, Jovem Pan News
Por Haliandro Furtado, da redação da Jovem Pan News Manaus
Revisão, Tatiana Sobreira.






