O aumento das mortes no trânsito de Manaus voltou ao centro do debate após publicação de um artigo técnico do especialista em Mobilidade Urbana Manoel de Castro Paiva na Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Amazonas (Fecomércio-AM). A análise, baseada em dados preliminares do Ministério da Saúde e estimativas do IBGE, aponta que motociclistas e pedestres representam 82% das vítimas fatais registradas em 2025 na capital.
Paiva destaca que países como Suécia e Holanda operam com taxas entre 3 e 4 mortes por 100 mil habitantes. O Brasil, no cruzamento mais recente de dados, aparece com média de 16,5 mortes por 100 mil habitantes. Em Manaus, entre janeiro e outubro deste ano, foram registradas 202 mortes, equivalentes a 8,77 por 100 mil habitantes. Em 2024, a capital atingiu 13,55 mortes por 100 mil habitantes, o maior índice das últimas duas décadas.
“O trânsito de Manaus continua apresentando riscos elevados para quem circula pela cidade, especialmente motociclistas e pedestres”, afirma.
Os números mostram que os dois grupos seguem como os mais vulneráveis. De janeiro a outubro de 2025, 96 motociclistas e 68 pedestres morreram em acidentes — juntos, 82% das fatalidades. Para Paiva, o cenário escancara fragilidades estruturais.
“Esses números mostram que os usuários mais vulneráveis são os mais impactados pela configuração do sistema viário”, avalia.
No artigo, o especialista compara Manaus com índices internacionais e destaca o contraste entre cidades que aplicaram políticas de segurança viária mais consolidadas. São Paulo registra 8,6 mortes por 100 mil habitantes, enquanto Helsinque teve quatro mortes no período, o equivalente a 0,59 por 100 mil habitantes.
“Mesmo considerando a diferença populacional, São Paulo mata 14 vezes mais que Helsinque”, observa.
As mortes em Manaus se concentram em corredores de grande fluxo, como Rodoanel Metropolitano, avenida Constantino Nery/Rodovia Torquato Tapajós e Alameda Cosme Ferreira. A maioria dos casos envolve motociclistas e atropelamentos em trechos que superam 50 km/h.
“Reduzir a velocidade salva vidas”, reforça, citando estimativas da OMS e da OPAS de que cada aumento de 1% na velocidade média eleva em 4% o risco de morte em acidentes.
Paiva também aponta desigualdades na infraestrutura urbana das zonas periféricas como fator decisivo para o agravamento dos casos. Bairros como Cidade Nova, Compensa e São José Operário concentram registros devido à ausência de calçadas contínuas, travessias seguras, ciclovias e sinalização adequada.
“Mais de 60% das internações por trauma de trânsito vêm dessas áreas periféricas”, afirma.
Para o especialista, reduzir as mortes exige a adoção dos princípios do Sistema Seguro, modelo que orienta políticas de países com os menores índices de mortalidade.
“Nenhuma morte deve ser considerada aceitável. Se uma fatalidade pode ser evitada, ela deve ser socialmente inaceitável”, defende.
Ele argumenta que o cumprimento da meta de acidente zero depende de ações integradas entre poder público, iniciativa privada e sociedade. Entre as medidas recomendadas estão fiscalização rigorosa, campanhas educativas, investimentos em infraestrutura segura e tecnologias de monitoramento.
“Garantir que nenhum cidadão pague com a vida pelo direito de se deslocar é a expressão mais básica de responsabilidade pública”, conclui.
Quem é Manoel de Castro Paiva
Com especializações em Planejamento e Operação de Transporte Coletivo pelo Instituto de Planejamento Urbano de Curitiba (IPUC/PMC), Manoel de Castro Paiva é um dos nomes mais experientes da mobilidade urbana no Amazonas. O especialista, natural de Lábrea, possui formação complementar em Engenharia de Tráfego pela Secretaria de Estado do Interior de Berlim, na Alemanha.
Paiva já ocupou o cargo de presidente da antiga Empresa Municipal de Transportes Urbanos (EMTU), onde atuou na gestão dos sistemas de transporte coletivo. Atualmente, é vice-presidente do Instituto de Inteligência Socioambiental Estratégica da Amazônia (Instituto PIATAM), além de colaborar com instituições técnicas, acadêmicas e do setor produtivo por meio de artigos e estudos especializados, entre eles o publicado pela Fecomércio-AM que embasa esta análise.
Com Informações da Fecomércio-AM
Por João Paulo Oliveira, da redação da Jovem Pan News Manaus






