O avanço de grandes lavouras de soja e milho no oeste do Pará tem provocado um salto nas intoxicações por agrotóxicos e acendido um sinal de alerta para toda a Amazônia. Dados do Painel de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde mostram que os casos cresceram 545% em cinco anos nos municípios de Santarém, Belterra e Mojuí dos Campos — passando de 31 registros para 200 entre 2021 e 2025. No estado como um todo, o aumento foi de 150% no mesmo período.
As denúncias não se limitam às estatísticas. Moradores relatam episódios recorrentes de pulverização próxima a escolas, casas e áreas de uso comunitário. Lideranças indígenas das aldeias Munduruku e Apiaká afirmam que o cheiro forte dos produtos invade as residências e provoca sintomas como náusea, tontura, irritação nos olhos e dores de cabeça. Quilombolas e agricultores familiares também afirmam que igarapés antes usados para banho e consumo deixaram de ser acessíveis por risco de contaminação.
Pesquisas da Universidade Federal do Oeste do Pará e do Instituto Evandro Chagas reforçam as preocupações. Estudos identificam relação entre exposição contínua a pesticidas e problemas neurológicos, irritabilidade, distúrbios do sono, além de impactos na saúde reprodutiva. Há registros também de aumento de doenças degenerativas em áreas mais próximas às plantações.
A pressão ambiental é outra face do problema. O avanço das monoculturas na região do Planalto Santareno triplicou a área plantada em uma década, enquanto culturas tradicionais, como a mandioca, diminuíram drasticamente. A conversão de floresta em lavoura e o uso intensivo de agrotóxicos têm aproximado as plantações de comunidades indígenas, escolas rurais e cursos d’água.
O Ministério Público Federal acionou a Justiça cobrando medidas de fiscalização e protocolos de segurança na aplicação dos pesticidas, apontando omissões de órgãos federais, estaduais e municipais. O caso ainda tramita e aguarda definição sobre qual instância será responsável pelo julgamento.
O crescimento das intoxicações no Pará reacende um debate que também interessa ao Amazonas. Embora a dinâmica agrícola seja distinta entre os estados, pesquisadores alertam que a região como um todo está exposta à expansão de modelos de produção que utilizam alto volume de químicos. Os riscos para a saúde pública, os impactos sobre comunidades tradicionais e a contaminação de rios da Amazônia pressionam por respostas mais rigorosas de vigilância e fiscalização.
Com Informações do Site Infoamazônia
Por João Paulo Oliveira, da redação da Jovem Pan News Manaus






