Fora do cargo, jamais afastado da política

Há um equívoco recorrente, amplamente disseminado por conveniência, segundo o qual a política se esgota com o encerramento de um mandato. Como se a ausência de uma função institucional implicasse a inexistência de pensamento, de influência ou de leitura qualificada do tempo histórico. Nada poderia ser mais superficial.

A política não constitui um ornamento a ser devolvido ao término do expediente oficial. Ela é formação intelectual, vocação cívica e exercício permanente. Pode-se, por deliberação pessoal, afastar-se das engrenagens formais do poder; o que não se pode é extirpar da própria consciência aquilo que estruturou uma trajetória pública. A política, quando autêntica, não se dissipa; ela persiste.

Paradoxalmente, é fora do mandato que muitos passam a enxergar com maior acuidade. Distante das urgências artificiais, das pressões corporativas e das seduções do poder imediato, conquista-se algo raro e precioso: a perspectiva. É a partir desse ponto, mais estratégico do que operacional, que se apreende o jogo em sua inteireza, enquanto outros, excessivamente imersos no tabuleiro, conseguem vislumbrar apenas o próximo movimento.

Há quem confunda acesso com compreensão, cargo com protagonismo, visibilidade com relevância. Trata-se de um equívoco frequente. A história política foi escrita, em grande medida, também por aqueles que, desprovidos de mandato, influenciaram rumos, pautaram debates e anteviram cenários que os supostamente bem posicionados só perceberam quando já se encontravam irremediavelmente atrasados.

Se algum dia eu optar por me afastar da política, tal decisão será fruto de escolha consciente. Ainda assim, ela não se afastará de mim.”

Isso porque a política não se resume ao posto que se ocupa, mas à capacidade de interpretar o tempo, conceber caminhos e dizer o que precisa ser dito, inclusive quando tal franqueza causa desconforto.

Estar fora do cargo não significa estar fora do jogo. Em certas circunstâncias, significa precisamente o contrário.

 

Por Arthur Virgílio Neto*

Coluna “Arthur Neto”-  para a Joven Pan News Manaus