Amazônia pode perder 38% de sua área até o fim do século, aponta estudo

Pesquisa publicada na revista PNAS indica que mudanças climáticas e uso da terra podem levar a perdas acima do limite considerado crítico para o bioma
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Um estudo publicado em 8 de dezembro na revista científica PNAS aponta que até 38% da Floresta Amazônica pode ser perdida até o final deste século em razão das mudanças climáticas e das alterações no uso da terra. A pesquisa foi conduzida por cientistas alemães com base em dados históricos e projeções climáticas.

Segundo os pesquisadores, a estimativa considera perdas acumuladas desde 1950. Desse total, 25% estariam relacionadas ao desmatamento e à conversão de áreas florestais em terras agrícolas e pastagens, enquanto 13% seriam atribuídas ao aumento das temperaturas globais.

“Nossa análise mostra que até 38% da área florestal existente em 1950 poderá ser perdida até o final do século, o que nos levaria além do limite de 20% a 25%, apontado por estudos anteriores como ponto de inflexão da Floresta Amazônica”, afirmou a autora principal do estudo, Selma Bultan, em comunicado.

Com cerca de 5,5 milhões de quilômetros quadrados, a Amazônia é a maior floresta tropical do mundo e desempenha papel central na regulação do clima. A região funciona como um sistema de reciclagem de umidade: a floresta absorve vapor d’água proveniente do oceano Atlântico, redistribui essa umidade por evapotranspiração e mantém os regimes de chuva em grande parte da América do Sul.

Além disso, a Amazônia concentra aproximadamente 10% dos estoques de carbono dos ecossistemas terrestres, o que a torna estratégica para conter o avanço do aquecimento global. A floresta também abriga centenas de povos indígenas e comunidades tradicionais, cuja sobrevivência depende diretamente da integridade do bioma.

O estudo alerta que a combinação entre desmatamento, expansão da agropecuária e eventos climáticos extremos, como secas prolongadas e ondas de calor, aumenta o risco de uma mudança estrutural no ecossistema. Nesse cenário, áreas hoje cobertas por floresta densa poderiam se transformar em paisagens semelhantes à savana, com vegetação mais aberta e menor capacidade de armazenar carbono.

Os pesquisadores destacam que, em larga escala, essa transição pode se tornar irreversível, impedindo a regeneração natural da floresta.

Para chegar às conclusões, os cientistas analisaram dados de desmatamento da bacia amazônica entre 1950 e 2014, além de modelos climáticos que simulam diferentes cenários de aquecimento global. O risco de perda abrupta da floresta aumenta significativamente caso a temperatura média global ultrapasse 2,3°C em relação aos níveis pré-industriais.

“Com base nas políticas atuais e nos compromissos climáticos existentes, estamos caminhando para um aquecimento global de pelo menos 2,5°C”, alertou Julia Pongratz, coautora do estudo e professora da Universidade Ludwig Maximilian de Munique.

Segundo os pesquisadores, os resultados reforçam a necessidade de redução imediata do desmatamento, fortalecimento da proteção de florestas tropicais e aceleração das políticas globais de combate às mudanças climáticas. Caso contrário, a Amazônia pode ultrapassar um limite crítico ainda neste século.


Com informações do Metrópoles*

Por Haliandro Furtado — Redação da Jovem Pan News Manaus