Banhos energéticos e rituais: ervas ganham destaque nas tradições populares brasileiras

 

Aromas e saberes populares se misturam em bancas de ervas espalhadas por feiras livres e esquinas em várias cidades do Brasil. Nesses pontos de venda, conhecimentos passados de geração em geração dão origem a chás, xaropes, escalda-pés, banhos e outras preparações. Mesmo sem comprovação científica para curar doenças, essas práticas são valorizadas por promoverem bem-estar, e a procura por folhas para banhos energéticos e rituais aumenta no fim de ano.

“As folhas ainda são procuradas para cuidados de saúde, caso do saião, guaco e assa-peixe, usadas para incrementar xaropes caseiros, mas a maior demanda dos erveiros é para o uso em banhos energéticos ou rituais”, explica um especialista no assunto.

Religiões indígenas e de matriz africana utilizam essas plantas em celebrações. No candomblé, por exemplo, as folhas, chamadas ewés, carregam o axé, a força vital que conecta o mundo espiritual ao real. Cada espécie é usada para uma finalidade específica, como oferendas, banhos e curas, purificando, equilibrando e reenergizando.

A Mãe Nilce de Iansã, referência do terreiro Ilê Omolu Oxum, explica: “Kò si ewé, kò si Orixá [ditado iorubá], ou seja, sem folha não tem orixá, porque o orixá é a natureza”. Ela ressalta que as folhas têm uso religioso, terapêutico e alimentar. “Muitas pessoas chegam até nós sem saber o que fazer, tomam um banho de nossas ervas, bebem um chá e se sentem aliviadas”.

Como coordenadora da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras, Mãe Nilce destaca que uma das bandeiras da entidade é o reconhecimento das ações terapêuticas nos terreiros como práticas de saúde. “Não estou falando de cura, mas de cuidado”, frisou.

O conhecimento sobre os banhos varia de pessoa para pessoa e de acordo com cada intenção. “Ialorixás [sacerdotes mulheres] e babalorixás [homens] estudam, se preparam e são guardiões de conhecimento ancestral”, explica Mãe Nilce. Por isso, não existe uma receita universal. Ela sugere alternativas simples e acessíveis: “Tome um banho de mar. Que delícia! Tome banho de rio e de cachoeira. É energia pura”.

A ciência reconhece que práticas religiosas e rituais podem trazer benefícios para a saúde, ainda que não comprovem efeitos diretos das ervas. “Não existe uma pesquisa para saber se, de fato, aquele banho vai te dar mais energia ou te trazer proteção. Porém, em relação ao bem-estar, o fato de as pessoas se sentirem mais protegidas, obviamente, muda a química do nosso cérebro positivamente, e isso traz benefícios”, afirma Aline Saavedra, doutora em biologia vegetal.

A precaução é importante, sobretudo na ingestão das plantas. “Certos chás podem trazer toxicidade, por exemplo, se utilizados por um período prolongado”, alerta Aline. Ela também orienta atenção às semelhanças entre espécies, que podem ser confundidas, e recomenda o uso de plantas já conhecidas na culinária, como manjericão, orégano, sálvia e alecrim. Para dúvidas, o Horto Virtual da Universidade Federal de Santa Catarina fornece informações sobre origem, modo de uso e efeitos adversos das plantas.

 

 

 

Com informações da Agência Brasil*

Por Victoria Medeiros, da Redação da Jovem Pan News Manaus

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