Casos de sífilis congênita aumentam 15% no Amazonas e acendem alerta sobre prevenção

Mesmo com aumento da cobertura pré-natal, quase 86% das mães de bebês infectados não receberam tratamento adequado; maioria das gestantes afetadas tem entre 20 e 29 anos.

O Outubro Verde, celebrado no terceiro sábado de outubro, busca conscientizar a população sobre a sífilis e a sífilis congênita, mas dados mostram que ainda há muito a avançar. De acordo com o Boletim Epidemiológico da Sífilis 2025, o Amazonas registrou aumento de 15,5% nos casos de sífilis congênita em relação ao ano anterior. Somente em 2025, Manaus já contabiliza 1.637 casos de sífilis em gestantes e 222 casos de sífilis congênita, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), números que reforçam a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado para proteger mães e bebês.

No Brasil, o cenário também é preocupante. Segundo o Ministério da Saúde, 85,7% das mães de crianças com sífilis congênita não receberam o tratamento adequado ou sequer iniciaram o protocolo com penicilina G benzatina em 2024. O dado reforça a fragilidade no acompanhamento das gestantes e a persistência da transmissão vertical, quando o bebê é contaminado ainda na barriga da mãe.

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível causada pela bactéria Treponema pallidum e tem cura. Mas, quando não tratada corretamente, pode causar abortos espontâneos, parto prematuro, malformações e até a morte do recém-nascido.

“Apesar de ser uma doença antiga e com tratamento disponível, a sífilis continua avançando por conta da falta de diagnóstico precoce e da descontinuidade no tratamento. Muitas pessoas desconhecem os sintomas iniciais e acabam transmitindo a infecção sem saber”, alerta o médico clínico Dr. Washington Júnior.

Perfil das mães afetadas e desigualdade social

Os dados nacionais revelam um retrato social preocupante. A maioria das mães de bebês com sífilis congênita tem entre 20 e 29 anos (58%), e 18,6% são adolescentes.
Mais de 70% das mães são negras (pretas ou pardas), segundo o levantamento de 2024. Esse recorte mostra que as desigualdades de acesso à informação e ao atendimento de saúde seguem sendo determinantes para o avanço da doença.

Embora mais de 80% das gestantes tenham realizado o pré-natal e 58% recebido o diagnóstico durante a gravidez, o tratamento não foi iniciado ou concluído em tempo hábil para interromper a transmissão ao bebê. Em 31,8% dos casos, a infecção só foi descoberta no momento do parto, e em 6,1%, apenas após o nascimento.

“O diagnóstico é simples e o tratamento é eficaz. O que falta é conscientização e continuidade no cuidado. A penicilina cura, mas é preciso começar o tratamento até 30 dias antes do parto e garantir que o parceiro também seja tratado”, explica o especialista.

Mortalidade infantil ainda preocupa

Entre 1998 e 2024, o Brasil registrou 3.739 mortes por sífilis congênita em bebês com menos de um ano de idade. Só em 2024, foram 183 óbitos, o que representa 7,2 mortes a cada 100 mil nascidos vivos, uma queda tímida de 7,7% em relação a 2023, quando a taxa foi de 7,8.

As regiões Norte e Nordeste continuam apresentando os índices mais altos. No Norte, o coeficiente foi de 9,5 óbitos por 100 mil nascidos vivos, acima da média nacional. Ainda assim, o Amazonas apresentou uma das maiores reduções do país (71,7%) nas mortes entre 2023 e 2024, resultado associado à intensificação das campanhas de testagem e ao reforço da atenção primária à saúde.

Uma doença que poderia ser totalmente evitada

A sífilis congênita é 100% evitável, desde que o diagnóstico e o tratamento adequados sejam feitos durante o pré-natal. O uso da penicilina G benzatina continua sendo o principal método de cura, disponível gratuitamente pelo SUS.
Além da testagem em gestantes, a conscientização sobre o uso do preservativo e o acompanhamento do parceiro são medidas fundamentais para interromper a cadeia de transmissão.

“O diálogo sobre saúde sexual ainda é um tabu, mas é essencial. Falar sobre prevenção salva vidas e impede que bebês nasçam com uma infecção que poderia ser totalmente evitada”, reforça o Dr. Washington.

Dia do Médico

Neste 18 de outubro, Dia do Médico, a data também serve como um convite à reflexão. Os profissionais de saúde, que atuam na linha de frente do diagnóstico e do tratamento da sífilis, enfrentam diariamente o desafio de combater uma doença antiga, mas ainda presente. Mais do que homenagear a profissão, o momento é de reforçar o papel do cuidado, da informação e da empatia. O Outubro Verde lembra que a prevenção e o tratamento precoce são atos de amor à própria saúde e à vida que está por vir.

Por Erike Ortteip, da. redação da Jovem Pan News Manaus.

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