O cinema brasileiro perdeu um de seus maiores nomes na Amazônia.O cineasta Roberto Kahane, de 77 anos, morreu nesta sexta-feira (3), em Manaus, vítima de um infarto fulminante. A notícia foi confirmada pela família e rapidamente ganhou repercussão no meio cultural do estado, gerando comoção entre artistas, amigos e admiradores de sua obra. Responsável por filmes marcantes e por preservar a memória audiovisual da Amazônia, Kahane deixa um legado inestimável para a história do cinema regional.
Ao longo de mais de cinco décadas dedicadas à sétima arte, o cineasta não apenas produziu obras que retratavam a realidade amazônica, mas também se tornou guardião de um importante acervo fílmico, reunindo registros que atravessam gerações. Sua trajetória foi marcada por ousadia, resistência cultural e pelo desejo de dar visibilidade à Amazônia através da câmera.
Trajetória e carreira
Nascido em Manaus, em 7 de setembro de 1948, Roberto Kahane iniciou sua carreira ainda jovem, produzindo curtas e longas-metragens que marcaram o cenário cultural. Obras como Como Cansa Ser Romano nos Trópicos (1969) e Noites sem Homem (1974) se tornaram referências e mostraram sua capacidade de unir crítica social e estética experimental. Além das produções próprias, o cineasta sempre esteve envolvido em projetos coletivos, cineclubes e movimentos de valorização do cinema independente no Amazonas.
Junto com sua esposa, a atriz e jornalista Norma Araújo, Roberto Kahane foi responsável por dois dos maiores programas de televisão da Amazônia brasileira: “Via de Regra” e, posteriormente, o “Programa da Norma”, que permaneceu no ar com grande sucesso por 25 anos, entrevistando autoridades, celebridades e ícones regionais.
Em suas redes sociais, Norma Araújo divulgou o horário do sepultamento de Roberto Kahane, que era de ascendência judaica e seguiu os ritos da religião. O cineasta foi sepultado às 13h (horário de Manaus), na ala judaica do cemitério São João Batista.
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Guardião da memória audiovisual
Mais do que um realizador, Roberto Kahane foi um verdadeiro guardião da memória audiovisual da Amazônia. Seu trabalho com acervos históricos resultou no documentário “Kahane e a Câmera do Dr. Salim”, que resgata registros raros da vida na região. A direção da obra ficou a cargo do amigo e parceiro de projetos Jean Robert César, cineasta e produtor nascido no Rio de Janeiro que escolheu Manaus como lar na década de 1990. Jean Robert faleceu em janeiro de 2023, e coube ao próprio Kahane finalizar o documentário como uma homenagem póstuma ao amigo.
Kahane também esteve à frente de iniciativas como o Cineclube Lumière, espaço dedicado a exibições e debates sobre cinema, com foco na formação de público e na resistência cultural diante dos desafios do setor audiovisual.
Legado e homenagens
Após sua morte, cineastas, amigos e instituições culturais destacaram a importância de seu trabalho. Entre eles, seu amigo e também realizador Chicão Filmes destacou a dimensão humana e profissional de Kahane:
“Para nós, do audiovisual, ele veio fazer a diferença, porque a gente via nele um diferencial. Ele era um talento. Um homem fora da curva, um ser humano incrível. Tinha um vasto conhecimento e acervo. Ele foi um grande amigo e está no meu último documentário, queria dizer que o Kahane foi uma pessoa primordial, me ajudou muito.”
Roberto Kahane deixa não apenas uma filmografia relevante, mas também a inspiração para novas gerações de cineastas que encontram em sua história um exemplo de resistência, criatividade e compromisso com a cultura da região. Sua partida representa uma perda irreparável, mas seu legado segue vivo nas imagens e nas memórias que ajudou a construir.
Em nota, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas lamentou profundamente a morte de Roberto Kahane e destacou sua importância para a valorização da identidade cultural amazonense por meio do cinema. O órgão ressaltou que o cineasta deixa um legado inestimável para as futuras gerações de realizadores audiovisuais.
Da Redação da Jovem pan News Manaus, Camilla Dantas