Desmatamento na Amazônia afeta coloração de borboletas, apontam pesquisadores

Mudanças ambientais ligadas à perda de floresta afetam genes, metabolismo e ciclo de vida de espécies da região
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A Amazônia, maior floresta tropical do mundo, com cerca de 421 milhões de hectares, concentra ampla diversidade de insetos. Entre eles, as borboletas se destacam pela coloração das asas. Espécies como Morpho menelaus, Prepona narcissus, Cithaerias andromeda e Historis acheronta têm apresentado perda de intensidade nas cores em áreas afetadas pelo desmatamento.

Segundo o professor de biologia Marcello Lasneaux, da Heavenly International School, em Brasília, o estresse ambiental e climático pode alterar a expressão de genes ligados à pigmentação. O aumento da temperatura e a redução da umidade interferem na atividade genética e no metabolismo dos insetos, o que compromete a formação dos pigmentos nas asas.

Entre os fatores associados a esse processo estão temperaturas mais altas, ambientes mais secos, alterações químicas na vegetação e na água, maior exposição à radiação ultravioleta devido à perda da cobertura florestal e mudanças no regime de chuvas. Essas condições podem afetar a fisiologia das borboletas e a disponibilidade de plantas usadas como alimento.

Espécies com coloração mais intensa tendem a ser mais afetadas. De acordo com a professora de biologia Francine Cariado, do colégio Galois, em Brasília, cores vivas resultam de processos longos de seleção natural e especialização. Quando o ambiente muda de forma rápida, essas características deixam de oferecer vantagem adaptativa e aumentam a exposição a predadores.

A professora compara o cenário atual a episódios históricos, como o ocorrido durante a Revolução Industrial, quando a mudança na coloração do ambiente favoreceu mariposas mais escuras. Em áreas desmatadas da Amazônia, o mesmo mecanismo pode levar à redução de populações de borboletas mais coloridas.

Outro fator de vulnerabilidade é a dependência de plantas hospedeiras. Algumas espécies utilizam apenas uma ou poucas plantas durante a fase larval. A redução ou desaparecimento dessas plantas interrompe o ciclo de vida dos insetos, especialmente em áreas fragmentadas da floresta, onde as populações ficam isoladas.

Além da alimentação, a diversidade de plantas influencia o desenvolvimento das larvas e a resistência a doenças e parasitas. Com oferta limitada de nutrientes, o crescimento é comprometido e a mortalidade tende a aumentar.

Especialistas apontam que a conservação das borboletas está diretamente ligada à preservação da floresta e da diversidade vegetal. A redução do desmatamento, a proteção de áreas nativas, o controle do uso de agrotóxicos e projetos de reflorestamento são medidas citadas como necessárias para manter as populações e as características das espécies na Amazônia.

 

 

Com informações da Metrópoles*

Por Haliandro Furtado — Redação da Jovem Pan News Manaus