O fim do ano costuma ser um período de balanço para as famílias brasileiras e, em meio às resoluções para o novo ciclo, organizar as finanças aparece como uma das principais metas para 2026. O desafio, no entanto, ainda é grande.
Após nove meses consecutivos de alta, o endividamento das famílias brasileiras apresentou a primeira queda em novembro, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O percentual passou de 79,5% em outubro para 79,2%, indicando um alívio mínimo às vésperas do fim do ano, sem alterar o cenário de pressão sobre o orçamento doméstico.
A inadimplência também recuou, de 30,5% para 30,0%, enquanto a parcela de famílias que afirmam não ter condições de pagar dívidas em atraso caiu para 12,9%, o menor nível desde agosto. Ainda assim, os índices seguem acima dos registrados em novembro de 2024.
Durante entrevista ao programa Minuto a Minuto, apresentado pelo jornalista Caubi Cerquinho, a educadora financeira Roberta Peres avaliou que os números refletem uma dificuldade estrutural na relação das famílias com o dinheiro.
Falando de Brasil, a gente tem aí um número bem grande de endividados. Em relação ao Amazonas, nós temos, segundo os dados da Serasa, desde outubro, 52% de mulheres estão endividadas e 41% de endividados. Então, a gente percebe aí que, realmente, cuidar dos números não é algo que entra na rotina do dia-a-dia das pessoas, né? Infelizmente.”
Questionada sobre a possibilidade de mudança desse cenário no próximo ano, Roberta afirmou que a reversão do quadro passa menos por soluções imediatas e mais por mudanças de comportamento no dia a dia das famílias.
Assim, eu costumo dizer que tudo depende. Tudo depende da pessoa decidir ter cuidado dos números, ter cuidado dos seus dinheiros. Porque é como se alimentar, como fazer ginástica, é o dia-a-dia. Não existe uma fórmula mágica que vai te dar uma solução imediata.”
Segundo a educadora, esse cuidado com o dinheiro precisa ser tratado como hábito e deve começar cedo, com envolvimento direto da família no processo de educação financeira.
Então, eu apoio as escolas que têm educação financeira implantada. Isso é muito bom. Mas pergunto aí, se você aprende educação financeira nas escolas, você, pai, mãe, tem que treinar também. Porque esse é um legado na cabeça da criança. Eu aprendo algo na escola e o pai e a mãe não são educativos. A conexão, filho, pai, pra que possa dar certo.”
Com a chegada do fim de ano e o pagamento do 13º salário para milhões de trabalhadores, a educadora chama atenção para o uso consciente do recurso, evitando decisões impulsivas que comprometam o início do ano seguinte.
Ao receber o 13º, que já aconteceu, o ideal é que você separe uma parcela pra já começar o ano ajudando das suas contas de janeiro e fevereiro. Mas, lógico, a gente sabe que muita gente não faz isso. Não é correto a gente simplesmente pegar o 13º e guardar pra liquidar dívidas, porque isso dá uma sensação de não merecimento.”
Ela ressalta que não existe uma regra única e que a decisão deve levar em conta o grau de endividamento e a realidade financeira de cada família.
É bom você tirar um percentual pra você se auto-presentear, mas tudo vai depender do seu grau de endividamento. Porque também, se presentear, significa você quitar uma dívida que está tirando o teu sono. Então, tudo é o poder da escolha.”
Para Roberta, mais do que técnicas ou ferramentas financeiras, o ponto central está na decisão de enfrentar o problema de forma contínua, sem soluções temporárias.
O que é importante as pessoas entenderem? Que o primeiro passo é tomar a decisão de resolver a situação. E não fazer como uma dieta. Toda segunda-feira começa e não começa. Porque aí, a pessoa já começa com a própria auto-sabotagem.”
Apesar do recuo pontual observado em novembro, especialistas avaliam que o cenário do endividamento segue exigindo cautela. A combinação entre juros elevados, crédito caro e renda pressionada deve continuar impactando o orçamento das famílias ao longo de 2026. Para analistas, a melhora sustentada dos indicadores depende não apenas de fatores macroeconômicos, mas também de mudanças graduais no comportamento financeiro da população, com maior planejamento e controle dos gastos no dia a dia.
Por Ismael Oliveira – Redação Jovem Pan News Manaus






