Estudo identifica interação celular que impulsiona a progressão do Alzheimer

Pesquisa da UFRGS mostra que inflamação cerebral depende da ativação conjunta de astrócitos e microglias para que a doença avance
Neurocientista Eduardo Zimmer, da UFRGS, liderou o estudo que investigou a relação entre inflamação cerebral e Alzheimer - Foto: Louis Reed/ Unsplash

Um estudo conduzido pelo laboratório do neurocientista Eduardo Zimmer, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), indica que a inflamação no cérebro pode ser necessária para que o Alzheimer se estabeleça e progrida. A pesquisa, publicada na revista Nature Neuroscience, analisou como o acúmulo das proteínas tau e beta-amiloide desencadeia reações em duas células importantes: os astrócitos e a microglia.

“Quando se diz que essas proteínas se acumulam no cérebro, queremos dizer que elas formam grumos insolúveis no cérebro, ou seja, umas pedrinhas mesmo. Essas duas células [astrócitos e microglias] coordenam a resposta imune do cérebro e nós já sabíamos que essas pedrinhas de proteínas fazem com que essas células respondam mudando para um estado reativo. Quando essas células estão reativas, o cérebro está inflamado”, explicou Zimmer, sobre o acúmulo dessas proteínas forma estruturas insolúveis.

Comunicação entre células registrada em pacientes vivos

O pesquisador afirma que a interação entre astrócitos e microglia já havia sido observada em animais e em análises de cérebros pós-mortem, mas ainda não havia sido descrita em pacientes vivos. O avanço foi possível com o uso de exames de imagem de última geração e biomarcadores de alta sensibilidade.

“Nós já sabíamos que a placa beta-amilóide [as pedrinhas que causam a inflamação] fazia o astrócito ficar reativo. O que não sabíamos é que para a doença se estabelecer a microglia também tinha que estar reativa. Então, com esses dois ativos, o astrócito se associa à placa beta-amilóide. Se o astrócito estiver reativo e a microglia não, nada acontece. Nesse contexto das duas células ativas, conseguimos explicar toda a progressão da doença com os outros marcadores, de amiloide e de tau até 76% da variância na cognição”, detalhou Zimmer.

Fatores de risco e exposições ambientais

O pesquisador afirma ainda que a origem da formação das placas beta-amiloides não é totalmente conhecida, embora exista relação com fatores genéticos e ambientais ao longo da vida. Fatores de risco como tabagismo, alcoolismo, sedentarismo e obesidade aumentam a probabilidade de desenvolver Alzheimer. Já atividade física, alimentação equilibrada, qualidade do sono e estímulo intelectual contribuem para reduzir essas chances.

Novos caminhos para tratamentos

A descoberta aponta para novas possibilidades terapêuticas. Se antes o foco era desenvolver medicamentos que atuassem diretamente na remoção das placas beta-amiloides, o estudo sugere agora que outra abordagem pode ser necessária: interromper a comunicação entre astrócitos e microglia.

“Então a ideia é a de que, além de tirar as ‘pedrinhas’, vamos precisar acalmar essa informação no cérebro, acalmar esse diálogo entre as duas células”, destacou.

O estudo recebeu apoio do Instituto Serrapilheira.

Com informações da Agência Brasil*

Por Haliandro Furtado, da redação da Jovem Pan News Manaus