Uma pesquisa nacional registrou que nove em cada dez profissionais da educação básica e superior já sofreram ou presenciaram episódios de perseguição, censura ou violência ligados ao exercício da atividade docente. O levantamento ouviu 3.012 educadores das redes pública e privada de todo o país.
O estudo, elaborado pelo Observatório Nacional da Violência Contra Educadoras e Educadores da Universidade Federal Fluminense em parceria com instituições de pesquisa, investigou situações que limitaram a liberdade de ensinar e o uso de conteúdos e materiais em sala de aula.
Tipos de violência relatados
O levantamento identificou tentativas de intimidação, questionamentos agressivos e proibições explícitas de conteúdos. Entre os educadores que relataram ter sido censurados, 58% citaram intimidação, 41% relataram agressividade nas cobranças sobre métodos de trabalho e 35% afirmaram ter recebido proibição direta para abordar determinados temas.
Casos de demissão (6%), suspensão (2%), mudança forçada de unidade (12%) e remoção de função (11%) também foram registrados. A pesquisa apontou ainda agressões verbais (25%) e físicas (10%).
Temas mais atingidos
Os temas mais associados à censura foram questões políticas (73%), gênero e sexualidade (53%), religião (48%) e conteúdos científicos relacionados ao negacionismo (41%). Professores relataram restrições a discussões sobre violência sexual, orientação sexual e teoria da evolução.
Os dados mostram que os episódios ocorreram principalmente durante anos eleitoralmente polarizados. Houve maior concentração em 2016, 2018 e 2022.
Violência dentro das instituições
A maior parte dos casos partiu de membros da comunidade escolar. O estudo aponta profissionais da área pedagógica (57%), familiares de estudantes (44%) e alunos (34%) entre os agentes mais frequentes. Professores, funcionários e equipes administrativas também aparecem como responsáveis.
Impactos no trabalho docente
O estudo registrou efeitos diretos no ambiente escolar. Insegurança, desconforto e receio de tratar determinados temas foram citados pela maioria dos entrevistados. Cerca de 45% dizem se sentir permanentemente vigiados, o que gera autocensura.
A pesquisa mostra que 20% mudaram de local de trabalho por iniciativa própria e 33% relataram impacto severo na vida pessoal e profissional. Muitos deixaram a docência após episódios sucessivos de agressões e perseguições.
Distribuição regional
As regiões Sudeste e Sul concentraram maior número de relatos diretos de violência. No total, 93% dos participantes afirmaram ter vivenciado ou tomado conhecimento de algum episódio de censura no ambiente de trabalho.
A pesquisa segue em nova etapa, com entrevistas individuais que aprofundam relatos. O relatório final recomendará a criação de políticas específicas de prevenção e enfrentamento à violência contra profissionais da educação. Novos documentos serão publicados a partir da análise completa do banco de dados.
Com informações da Agência Brasil
Foto: Getty Images
Por Ismael Oliveira – Redação Jovem Pan News Manaus






