Manaus completa 356 anos reafirmando seu papel de protagonista na história da Amazônia. O que começou em 1669, com a construção do Forte de São José da Barra do Rio Negro, sob comando do capitão de artilharia Francisco da Mota Falcão, evoluiu para uma metrópole moderna, pulsante e estratégica para o desenvolvimento nacional.
Criada para garantir o domínio português em terras amazônicas, a cidade cresceu à margem esquerda do Rio Negro, transformando-se de um pequeno núcleo militar em um importante centro urbano. No século XIX, viveu o apogeu do ciclo da borracha, tornando-se símbolo de luxo e progresso. Mais de meio século depois, a criação da Zona Franca de Manaus (ZFM), em 1967, inaugurou um novo capítulo — o da industrialização, da tecnologia e da integração entre economia e floresta.
O motor da economia amazônica
O superintendente da Suframa, Bosco Saraiva, destaca que os resultados alcançados pelo modelo econômico comprovam o amadurecimento industrial e tecnológico da capital.
“Os números, de fato, comprovam a grandiosidade do Polo Industrial de Manaus. Nós faturamos até agosto R$ 147 bilhões e chegamos a um nível de emprego recorde de quase 132 mil trabalhadores diretos no chão de fábrica. A cada nova estatística, fica comprovada a pujança da economia e do motor que é a Zona Franca de Manaus.”
Segundo Saraiva, o modelo é hoje sinônimo de estabilidade e progresso, sustentando cadeias produtivas diversas e garantindo oportunidades a milhares de famílias.
“A força da economia da Zona Franca mantém mais de 500 fábricas, fomenta mais de 20 universidades e impulsiona o desenvolvimento tecnológico há mais de 50 anos. Se compararmos o período pré-Zona Franca com o atual, a diferença é abissal. Hoje, Manaus é uma megalópole amazônica, o verdadeiro motor econômico da região.”
Inovação e conhecimento: o novo ciclo de Manaus
Para o secretário executivo de Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas (Secti-AM), Jeibi Medeiros, Manaus vive um momento de integração e amadurecimento. A cidade, que antes se desenvolvia sob a lógica industrial clássica, agora caminha para uma economia mais conectada com a pesquisa e a inovação.
“Manaus vive um novo ciclo, marcado pela integração e pelo amadurecimento. Hoje vemos universidades, institutos de pesquisa, startups e empreendedores atuando de forma mais próxima. Retornamos ao diálogo entre governo, academia e setor produtivo, fortalecendo políticas públicas e consolidando uma base sólida de ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento do Estado.”
Essa convergência é também percebida dentro do Polo Industrial, onde as empresas vêm ampliando investimentos em automação, eficiência energética e economia circular, apostando em novos padrões de competitividade e sustentabilidade.
O vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM), Nelson Azevedo, reforça que o setor industrial é o alicerce que sustenta a economia local.
“Sem dúvida, a indústria tem sido o grande vetor de transformação econômica e social de Manaus. Desde a criação da Zona Franca, o Polo Industrial se consolidou como o principal responsável pela geração de empregos formais, arrecadação de tributos e diversificação produtiva da nossa economia. Foi a indústria que impulsionou a urbanização, a infraestrutura e o surgimento de uma cadeia robusta de comércio e serviços.”
Da Zona Franca à bioeconomia: o futuro em construção
O Polo Industrial de Manaus (PIM) entra agora em um novo ciclo estratégico, voltado à bioeconomia, tecnologia limpa e eficiência energética. Bosco Saraiva explica ainda que essa transição é uma evolução natural do modelo e reflete o amadurecimento da indústria amazonense.
“O Polo tem incentivado pesquisas no campo da bioeconomia, desenvolvendo soluções em escala industrial e respeitando rigorosos critérios ecológicos. Estamos amadurecendo nossa ciência e tecnologia para, nos próximos 50 anos, transformar Manaus no grande centro global de bioeconomia e inovação verde. Todos têm um polo industrial; só Manaus tem a Amazônia.”
Para Jeibi Medeiros, essa transição só é possível porque o Amazonas construiu, nos últimos anos, uma base de diálogo entre ciência e sociedade. Ele cita o Plano Estadual de Bioeconomia como um dos exemplos de política pública construída de forma participativa.
“O plano mostra que é possível gerar desenvolvimento valorizando nossa biodiversidade e o conhecimento do nosso povo. É um esforço coletivo que coloca o Amazonas como referência nacional em participação social e integração territorial.”
Essa integração, segundo ele, é o diferencial que posiciona o estado na vanguarda da sustentabilidade.
“Quando conectamos universidades, institutos, setores produtivos e comunidades locais, criamos cadeias que agregam valor à matéria-prima regional, gerando produtos, empregos e renda com sustentabilidade e respeito à floresta. Manaus é o coração da Amazônia e tem tudo para liderar essa nova fase de desenvolvimento baseada em conhecimento, inclusão e sustentabilidade.”
Indústria e tecnologia: o alicerce da capital moderna
O vice-presidente da FIEAM, Nelson Azevedo, observa que o Polo Industrial reúne hoje mais de 600 empresas ativas, gerando 130 mil empregos diretos e cerca de 400 mil indiretos, além de movimentar R$ 180 bilhões em 2024. Esses números, segundo ele, traduzem a força de um modelo que, há quase seis décadas, sustenta a economia da Amazônia.
“Esses resultados comprovam a relevância do modelo e sua contribuição para o equilíbrio econômico e social da Amazônia.”
O dirigente afirma que a indústria manauara tem investido em automação, pesquisa e eficiência energética, num movimento de modernização contínua.
“Há um esforço concreto para reduzir o impacto ambiental e integrar a produção à lógica da sustentabilidade. É um novo ciclo industrial em que inovação e responsabilidade ambiental caminham lado a lado.”
Para Azevedo, o futuro da economia regional será construído com base na integração de modelos produtivos, e não na substituição de um pelo outro.
“O Polo continuará sendo o alicerce de Manaus, mas precisa dialogar com a nova economia digital, com a bioeconomia e com os arranjos produtivos locais. É assim que garantimos diversificação econômica e desenvolvimento sustentável de longo prazo.”
Bosco Saraiva concorda.
“Nós amadurecemos nossa mão de obra, capacitamos nossos trabalhadores e desenvolvemos processos produtivos que nos colocam no andar de cima da eficiência tecnológica. E jamais abriremos mão disso.”
Uma cidade que se reinventa com a floresta
Em 356 anos, Manaus transformou-se de um posto militar lusitano em um centro global de produção e conhecimento dentro da floresta. A cidade é hoje um exemplo de que é possível gerar riqueza, tecnologia e inovação com responsabilidade ambiental.
“No momento em que Manaus completa seus 356 anos, a grande esperança que a gente tem é que, pelos próximos 50 anos, quando a Zona Franca terá mais de um século de existência, possamos transformar o epicentro da Amazônia no grande centro de bioeconomia e tecnologia do mundo”, projeta Bosco Saraiva.
E, como resume Nelson Azevedo, a história de Manaus é também a história de sua indústria — que moldou o presente e pavimenta o futuro.
“A indústria é parte indissociável da história contemporânea da cidade. O futuro de Manaus passa por conhecimento, inovação e sustentabilidade, sem esquecer a base sólida que a indústria construiu. É hora de seguir avançando com equilíbrio entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental, garantindo que as próximas gerações tenham orgulho da capital e do modelo que ajudou a preservar a Amazônia.”
Em 356 anos de história, Manaus segue sendo a força que pulsa no coração da Amazônia — um modelo que equilibra economia, ciência e natureza, projetando o futuro a partir da floresta.
Novos olhares para Manaus e Amazonas: bioeconomia, startups e transição energética redefinem o futuro da capital amazônica
Manaus e o Amazonas vivem um momento de transição estratégica: não basta mais manter o papel histórico como “terra da indústria”, é hora de redefinir esse legado, recuperando raízes e lançando olhares novos para a bioeconomia, para as startups e para a transição energética. A capital amazônica, que durante décadas se apoiou fortemente no modelo industrial baseado na Suframa/Zona Franca de Manaus (ZFM), agora encontra aliados na academia, na pesquisa e no empreendedorismo para se projetar de outro patamar.
Um dos exemplos concretos dessa virada é a atuação da Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) em parceria com outras instituições amazônicas. A instituição integra a Rede Amazônica de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade, com aporte de US$ 2 milhões pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para desenvolver soluções de bioeconomia na Amazônia. Ao mesmo tempo, uma parceria entre a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), INPA e o Massachusetts Institute of Technology (MIT) investe no desenvolvimento de polímeros sustentáveis em Manaus, com o objetivo de diversificar o Polo Industrial da capital.
Essas pesquisas estão diretamente vinculadas a novas cadeias de valor: a exploração responsável de produtos da floresta amazônica: como açaí, castanha, pirarucu, e a transformação desses recursos em produtos de alto valor agregado. Em uma iniciativa conjunta da UEA, INPA e outras entidades, foram estudadas as cadeias produtivas da bioeconomia na Amazônia, com foco em emprego, renda e bem-estar. O que se abre aqui é uma janela para empreendimentos que vão além da manufatura tradicional, migrando para a ciência, para a tecnologia, para a economia criativa e para a circularidade. O que caracteriza de vez a introução de novas matrizes econômicas.
Para Manaus, esse novo ciclo representa oportunidade concreta. As escolas profissionalizantes e universidades locais, como a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e a UEA, vêm formando tecnólogos, pesquisadores e empreendedores com foco nos desafios amazônicos, permitindo que projetos de startups ganhem base de conhecimento e infraestrutura local. Na medida em que essas iniciativas avançam, abre-se espaço para novos negócios em biotecnologia, economia de base florestal, energias renováveis, inovação em materiais, serviços de apoio à floresta, e até à transição energética e à logística de baixo impacto ambiental.
Mais do que isso, Manaus e o Amazonas reafirma a vocação de “Amazônia para o mundo”: biodiversidade, transformar saberes tradicionais em ciência aplicada, conectar comunidades, academia e mercado e gerar modelo de negócio sustentável e responsável. A terra da indústria o Polo Industrial de Manaus pode se reinventar como polo de inovação amazônica, onde “industrial” não significa apenas montagem e manufatura, mas pesquisa-desenvolvimento, inovação e bioeconomia, com novos olharea para a comunidade tradicional do Norte do Brasil.
Cabe agora aos agentes da indústria, aos empreendedores e aos ecossistemas de startups identificarem e potencilizareem essas janelas. É preciso com urgência apoiar projetos que integrem academia, comunidade e mercado, incentivar startups que explorem soluções amazônicas (desde materiais sustentáveis e técnicas de processamento até plataformas de serviço); investir fortemente em transição energética, valorizando matéria-prima renovável e reduzindo a dependência de modelos obsoletos; garantir que os investimentos em inovação reflitam a identidade e o território amazônico, gerando emprego qualificado, renda local e soberania tecnológica.
Esse novo olhar exige atuação conjunta: poder público, iniciativa privada, academia e sociedade civil têm papel estratégico com escuta ativa de fato. E, com os projetos já em curso no Amazonas, o momento é propício para que Manaus não apenas repita o passado industrial, mas lidere uma nova era . Aquela em que a bioeconomia e a inovação transformam a floresta, a cidade e sua gente em protagonistas globais.
Já Passou da hora: Manaus tem a ciência, a floresta, a base industrial e a vontade de se reinventar. Que esse ciclo comece e recomece.
Reportagem João Paulo Oliveira, da redação da Jovem Pan News Manaus
Contribuição e revisão por Tatiana Sobreira, da redação da Jovem Pan News Manaus
Arte Laura Ranchor



