Manaus (AM) – O câncer de colo do útero continua sendo a principal causa de morte por câncer entre mulheres no Amazonas. São, em média, 23 óbitos por mês, mais do que o número de vítimas da tragédia de Brumadinho, todos os anos. E o mais grave: trata-se de uma doença 100% prevenível. Os dados foram apresentados ao vivo no programa De Olho na Cidade, da Jovem Pan News Manaus, que recebeu o diretor-presidente da FCECON, Dr. Gerson Antônio Mourão, e a ginecologista e obstetra Dra. Mônica Maria Bandeira.
“Imagina, 296 mulheres morreram só no ano passado por câncer de colo do útero. E até julho deste ano, já são 182 óbitos confirmados. Mas esse número é só a ponta do iceberg — muitas mulheres nunca fizeram sequer um preventivo e sequer chegam a um diagnóstico”, alertou Dra. Mônica.
Ela reforça que para que o câncer de colo do útero seja identificado como causa oficial de morte, a mulher precisa ter feito uma biópsia, o que exclui grande parte dos casos não diagnosticados.
“Estamos falando de uma tragédia invisível”, completa.
Doença evitável, mortes evitáveis
Dra. Mônica Bandeira, que atua na área desde os anos 1980, relata que a realidade pouco mudou ao longo das décadas.
“Quando eu era acadêmica, com 21 anos, já via mulheres morrendo de um câncer totalmente evitável. Hoje, com 66 anos e 40 anos de profissão, a cena se repete. Isso dói. Não precisava ser assim.”
Ela lembra que o câncer de colo do útero é o único tumor humano com causa conhecida — o HPV — e que a prevenção existe e está disponível. A vacina contra o HPV começou a ser aplicada no mundo em 2006, mas encontrou resistência até ser incorporada às políticas públicas no Brasil.
Amazonas foi pioneiro na vacinação
Apesar da demora nacional, o Amazonas foi pioneiro na aplicação gratuita da vacina contra o HPV, graças a uma articulação histórica entre governo e prefeitura, em 2013.
“A gente discutia a vacina em congressos, seminários, faculdades, mas ninguém tomava a decisão. Até que o então governador Omar Aziz me chamou e perguntou: ‘Que diabo de vacina é essa?’”, relembra Mônica. “Ele, junto com o então prefeito Arthur Virgílio, tomou uma decisão corajosa: oferecer a vacina gratuitamente. O Amazonas foi o primeiro estado, e Manaus, a primeira capital do país a fazer isso.”
Hoje, a vacina está de volta às escolas, o que é comemorado pelas autoridades como uma medida crucial para conter o avanço da doença.
“É fundamental vacinar nas escolas. A vacina é mais eficaz antes do início da vida sexual. A prevenção salva vidas, e também recursos”, afirma o Dr. Gerson Mourão.
Segundo ele, a vacinação contra o HPV já gerou uma economia de aproximadamente R$ 2 bilhões ao sistema público de saúde.
“É dinheiro que deixou de ser gasto com tratamentos que poderiam ter sido evitados. É a prova de que prevenção é investimento”, completou o presidente da FCECON.
A luta pela mamografia e o combate ao câncer de mama
Outro ponto destacado por Dr. Gerson Mourão foi a mudança nas diretrizes da mamografia pelo SUS. Até pouco tempo atrás, o exame era oferecido apenas para mulheres acima de 50 anos e a cada dois anos. Agora, começa a ser adotada a mamografia anual a partir dos 40 anos, uma reivindicação histórica das sociedades médicas.
“Essa conquista não veio do nada. Foram 25 anos de luta. Nós sempre defendemos a mamografia anual a partir dos 40. Essa mudança é histórica e representa um avanço enorme no combate ao câncer de mama”, afirma.
Segundo Mourão, os dois tipos de câncer — colo do útero e mama — representam cerca de 40% dos casos oncológicos entre mulheres no estado. “Ao combater esses dois, estamos enfrentando quase metade do problema”, reforça.
Cepcolu: resposta concreta e promissora
Após anos de negligência, uma nova iniciativa começa a mudar o cenário: o CEPCOLU – Centro Avançado de Prevenção ao Câncer do Colo do Útero do Amazonas.
“O Cepcolu é um hospital de dia. A paciente realiza a cirurgia, fica algumas horas em observação e volta para casa. É rápido, eficiente, e humanizado”, explica Dra. Mônica.
Em apenas seis meses de funcionamento, o Cepcolu realizou 507 cirurgias ginecológicas, número cinco vezes maior que o realizado pela antiga Fundação Secom no mesmo período. A unidade conta com quatro salas cirúrgicas, quatro consultórios ginecológicos e um anfiteatro, além de já iniciar cursos e treinamentos para profissionais da rede.
“Nos primeiros três meses, foi tudo adaptação: chegada das equipes, instalação dos equipamentos. Mas agora o hospital está a pleno vapor. Em poucos meses, fizemos o que antes se fazia em um ano”, comemora a médica.
A presença das autoridades de saúde no programa De Olho na Cidade, apresentados pelos jornalistas Jackson Nascimento e Tatiana Sobreira, com produção de Erike Ortteip, evidencia a gravidade da situação no Amazonas, e ao mesmo tempo, os caminhos possíveis para mudá-la. Com políticas públicas consistentes, vacinação ampliada, acesso ao diagnóstico e iniciativas como o Cepcolu, é possível virar esse jogo.
“Temos os meios. Falta informação, vontade política e, sobretudo, mobilização da sociedade”, finaliza Dra. Mônica. “Câncer de colo do útero não é sentença. É uma doença evitável. Mas para isso, precisamos agir.”
Po Erike Ortteip, da redação da Jovem Pan News Manaus
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