Final de Ano: Reflexões e Desafios Emocionais

O psicólogo Dr. Ruy Lima analisa as síndromes de final de ano, destacando o aumento do estresse e a pressão por produtividade, além do impacto emocional das festas para aqueles que enfrentam luto e solidão.

O final do ano costuma ser sinônimo de celebrações e renovação, mas também pode se transformar em um período de forte tensão emocional. Esse foi o tema da entrevista exclusiva concedida pelo psicólogo Dr. Ruy Lima ao programa Minuto a Minuto, da Jovem Pan News, em que ele explicou como funcionam as chamadas síndromes de final de ano e por que tantas pessoas se sentem mais vulneráveis nessa época.

“As pessoas que, quando chega essa época, já ficam um pouco mais sensibilizadas, é porque tem alguma coisa ali que está precisando ser resolvida. De luto, de abandono, de desamparo, questões econômicas”, destacou o psicologo. 

Pressão por produtividade e a ‘Síndrome da Retrospectiva’

 

Durante a entrevista, o Dr. Ruy Lima destacou o aumento de casos que ele classifica como síndrome retrospectiva, quando a pessoa revisita o ano que está terminando e se sente frustrada com o que “não conseguiu fazer”.

Embora nem sempre haja aumento nos casos diagnosticados de depressão no fim do ano, os dados revelam que esse período é, sim, emocionalmente mais difícil para muita gente.

Estudos internacionais da American Psychological Association apontam que entre 38% e 89% das pessoas relatam aumento de estresse durante a temporada de festas. Pesquisas também mostram que a pressão por socialização e produtividade contribui para sensações de angústia, solidão e esgotamento.

A pesquisa, feita com 2.061 pessoas acima de 18 anos, também descobriu que 88% dos entrevistados sentem-se estressados no fim do ano. Para lidar com o cansaço mental, 70% conversam com amigos sobre o que está passando, mas apenas 41% deles acreditam que a estratégia rende algum benefício. 

No Brasil, o impacto é evidente: de acordo com o Centro de Valorização da Vida (CVV), o número de ligações para apoio emocional cresce, em média, 15% no mês de dezembro. Especialistas e instituições relatam também maior procura por atendimento psicológico e psiquiátrico no final do ano.

 

Luto, solidão e a carga emocional das festas

O psicólogo também destacou que as comemorações de fim de ano podem ser especialmente dolorosas para quem enfrenta o luto ou a solidão. 

“O indivíduo, eu, você, todos nós, a gente não é olhado e visto pela saúde apenas como algo isolado, tem todo um contexto. E chegando essa época, que tá todo mundo vivendo o ritmo de final de ano, o ritmo de festa, o ritmo de décimo terceiro, alguns, ritmo de fechamento de ciclo, e algumas pessoas vão vendo isso passar como se fosse ali na janela da casa, e o tempo tá passando e eu tô ficando, o que tá acontecendo?  E outra coisa importante, ela lembra que muitos natais foram com pessoas importantes e que de repente essas pessoas não estão mais aqui”, destacou. 

 

A cobrança social por felicidade quase implícita nas festas também pode aprofundar o sofrimento de quem não está emocionalmente bem. “É uma pressão silenciosa, mas potente”, destacou o especialista.

Além do retorno ao passado, existe a ansiedade projetada para o futuro. A chamada síndrome do encerramento, descrita pelo Dr. Ruy, representa a urgência de “começar o ano zerado”: novos planos, mudanças imediatas e expectativas muitas vezes irreais.

˜É importante se olhar. Se perceber, né? A gente chama isso de tatear. Tatear. Se tocar mesmo. Chegar a uma certa fase da vida que é bom a gente precisa fazer. Essa pergunta tinha que, apesar de ser simples, a resposta não é tanto. Quem sou eu? E isso não tem idade pra fazer essa pergunta. E, às vezes, quando chega nessa época de final de início de ano, é propício também pra gente pensar nisso˜, destacou.