O presidente da França, Emmanuel Macron, nomeou novamente Sébastien Lecornu como primeiro-ministro nesta sexta-feira (10), apenas quatro dias após a renúncia do próprio político ao cargo. A decisão representa uma tentativa de conter a crise política que ameaça a governabilidade do país e adiar pressões por eleições antecipadas.
Em comunicado oficial, o Palácio do Eliseu informou que Lecornu foi reconduzido com “carta branca para formar um novo governo” e retomar o controle da pauta orçamentária. O principal desafio segue sendo aprovar o Orçamento de 2026 em meio ao impasse na Assembleia Nacional e à crescente hostilidade da oposição.
“Aceito — por dever — a missão que me foi confiada pelo presidente da República. Precisamos pôr fim a esta crise política que exaspera os franceses”, escreveu Lecornu na rede social X (antigo Twitter).
Renúncia, retorno e crise
Lecornu havia deixado o cargo na última segunda-feira (6), alegando que “não havia condições políticas para governar”. Ele enfrentava forte resistência na Assembleia e dificuldades para avançar com medidas fiscais propostas por Macron — como cortes de gastos públicos em meio a uma dívida que já ultrapassa 115% do PIB francês.
A breve saída do cargo marcou a terceira troca de primeiro-ministro em menos de um ano: seus antecessores, Michel Barnier e François Bayrou, também caíram em meio a impasses sobre o orçamento.
A nova nomeação vem acompanhada de promessas de manter a agenda econômica de austeridade, o que deve aumentar ainda mais o atrito com a oposição, que defende desde a revogação da reforma da Previdência até a taxação dos mais ricos como alternativa ao ajuste fiscal.
Reação imediata da oposição: moção de censura à vista
Tanto a esquerda quanto a extrema direita reagiram com hostilidade à recondução de Lecornu. Deputados da França Insubmissa (LFI) e do Reagrupamento Nacional (RN) anunciaram que irão apresentar moções de censura já na segunda-feira (13).
“É uma piada de mau gosto, uma vergonha democrática e uma humilhação para o povo francês”, disse Jordan Bardella, presidente do RN.
“Cada volta do carrossel, o pompom permanece no mesmo lugar”, ironizou Jean-Luc Mélenchon, da LFI.
A líder do RN, Marine Le Pen, defendeu que a dissolução da Assembleia Nacional é inevitável e que o governo perdeu toda a legitimidade.
Macron cada vez mais isolado
Macron enfrenta seu momento mais frágil desde que chegou ao poder. Com desaprovação recorde de 77%, segundo o Politico, e sem maioria parlamentar, o presidente se recusa a antecipar as eleições legislativas, temendo um avanço da extrema direita.
Analistas políticos apontam que o “cordão sanitário”, a tradicional união entre centro e esquerda para barrar o RN, pode não se sustentar em um novo pleito — o que deixaria Macron ainda mais dependente de alianças indesejadas.
Na segunda-feira, dia da renúncia de Lecornu, uma imagem de Macron caminhando sozinho às margens do Rio Sena, captada pela BFM TV, viralizou nas redes sociais e foi interpretada como símbolo do isolamento político do presidente.
Com informações da Assessoria.
Por Erike Ortteip, da redação da Jovem Pan News Manaus.