A economia brasileira entrou no último trimestre de 2025 sob o efeito de um movimento mais claro de desaceleração. A prévia do PIB divulgada pelo Banco Central nessa segunda-feira (17) mostrou retração de 0,9% no terceiro trimestre — a primeira queda em quase dois anos. O resultado é influenciado pelo aperto monetário prolongado, com a taxa Selic mantida em 15% ao ano.
Segundo o economista da Fecomércio-AM, Dr. Max Cohen, a combinação entre juros altos, confiança fragilizada e menor apetite das empresas por investimentos vem disseminando o arrefecimento por toda a economia.
“A atividade perde força de maneira ampla na indústria, nos serviços e no consumo das famílias, mesmo com a inflação cedendo lentamente”, observa. O IPCA acumulado em 12 meses está em 4,68%, após ter recuado de 5,17%.
Impacto no Amazonas
No estado, os efeitos aparecem com maior nitidez nos indicadores de arrecadação e atividade. A receita de ICMS do comércio e serviços acumula queda de –3,4% entre janeiro e outubro. Apenas em outubro, o recuo foi mais acentuado, de –10% na comparação anual. A projeção indica que 2025 deve encerrar com retração de –3,3%.
Para Cohen, os números refletem um ambiente típico de aperto monetário.
“Crédito caro, famílias endividadas e renda disponível menor reduzem o consumo e afetam diretamente a arrecadação”, pontua.
O comércio também mostra perda de fôlego. No varejo restrito, o volume de vendas caiu –0,2% entre agosto e setembro e –1,3% frente ao mesmo período de 2024, apesar de manter crescimento acumulado de 1,3% no ano. No varejo ampliado — que inclui veículos e materiais de construção — houve avanço de 1,4% no mês e 0,4% na comparação anual, mas com ritmo menor ao longo do trimestre.
O setor de serviços, motor da economia de Manaus, apresentou queda de –8,1% em relação a setembro de 2024. O acumulado de 12 meses desacelerou de 7,8% em julho para 4,3% em setembro.
O único segmento com desempenho positivo é o de atividades turísticas, que cresceu 20,3% na comparação anual e 12,7% no acumulado do ano. Ainda assim, o avanço não é suficiente para compensar o recuo dos demais setores.
Endividamento e inflação pressionam famílias
O endividamento atinge 87% dos lares amazonenses, o maior nível da série histórica. Mais de 41% dos consumidores afirmam não ter condições de quitar dívidas em atraso. As perspectivas para consumo e confiança do empresariado seguem baixas, com mais de 70% dos entrevistados avaliando piora no cenário econômico recente.
O custo de vida também pesa. Pesquisa da Neogrid e FGV aponta que Manaus teve, em setembro, a maior alta da cesta básica entre todas as capitais: 16,26% no mês e 15,29% no semestre. A cesta ampliada avançou ainda mais, com 18% no mês e 22,53% em seis meses.
Para Cohen, o quadro inflacionário local reforça a vulnerabilidade econômica do estado.
“O aumento simultâneo de alimentos, proteínas e itens de higiene corrói renda, reduz o consumo e intensifica tensões sociais”, analisa.
Desafios e caminhos possíveis
Diante do cenário, Cohen afirma que o momento exige prudência e planejamento.
“O desafio é construir respostas consistentes à perda de dinamismo. No curto prazo, é preciso fortalecer o acesso ao crédito responsável, apoiar setores resilientes e incentivar a formalização”, afirma.
Ele avalia que o médio prazo deve ser guiado por ganhos de produtividade, inovação e diversificação econômica.
“A Zona Franca permanece estratégica, mas o estado precisa ampliar suas fontes de geração de renda e reduzir custos sistêmicos”, completa.
Com Informações da Fecomércio-AM
Por João Paulo Oliveira, da redação da Jovem Pan News Manaus






