Saiba como surgiu o Comando Vermelho e sua expansão pelo Brasil

Criado em presídio da Ilha Grande na década de 1970, o CV se tornou a maior facção do Rio e a segunda do Brasil, com atuação em 25 estados
Integrantes do Comando Vermelho atuam em favelas do Rio de Janeiro e em outros estados - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O Comando Vermelho (CV) surgiu há 54 anos dentro do Instituto Penal Cândido Mendes, em Ilha Grande (RJ), com o objetivo de proteger presos contra maus-tratos durante a Ditadura Militar. Inicialmente chamado de “Falange Vermelha”, o grupo foi liderado por William da Silva Lima, conhecido como “Professor”, condenado por assaltos a bancos, extorsão e sequestro.

A convivência entre presos políticos e comuns favoreceu a organização da facção, que passou a criar regras internas e a intermediar negociações com as autoridades. Com a Lei da Anistia de 1979, os presos políticos foram libertados e o grupo se reorganizou, iniciando fugas em massa e o tráfico de drogas, principalmente cocaína. Entre 1983 e 1986, o CV ampliou o controle sobre pontos de venda de drogas no Rio de Janeiro.

Nos anos 1990, disputas internas e externas marcaram a história do grupo. Em 1994, a morte de Orlando Jogador, líder no Complexo do Alemão, levou à criação da facção rival Amigos dos Amigos (ADA). Outras organizações, como as milícias e o Terceiro Comando Puro (TCP), também se tornaram inimigas. O CV chegou a firmar acordos de não agressão com o Primeiro Comando da Capital (PCC), mas a aliança foi rompida em 2016.

Atualmente, o Comando Vermelho é a maior facção do Rio de Janeiro e a segunda maior do Brasil. Estruturalmente, funciona como uma rede de franquias com hierarquia própria, controlando atividades ilegais, principalmente o tráfico de drogas. O grupo diversificou o arsenal, produzindo armas no Brasil, utilizando drones e tecnologia bélica em confrontos.

O CV expandiu sua atuação para estados do Norte e Nordeste, mantendo alianças com criminosos de outras regiões. Segundo o Mapa dos Grupos Armados, entre 2022 e 2023, a facção ampliou em 8,4% as áreas sob seu domínio e passou a controlar 51,9% das regiões ocupadas por grupos armados na Região Metropolitana do Rio.

O lucro da facção não vem apenas do tráfico. Um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública indica que a venda ilegal de combustível, ouro, cigarro e álcool movimentou R$ 146,8 bilhões em 2022, enquanto o tráfico de cocaína gerou R$ 15 bilhões no mesmo período. A organização também mantém fábricas clandestinas de armas, algumas com impressoras 3D, aproveitando falhas no controle de armamentos.

As operações policiais têm se mostrado insuficientes para reduzir o poder do grupo. Em áreas dominadas pelo CV, a probabilidade de confrontos é 3,71 vezes maior do que em territórios controlados por milícias, e 60% das ações violentas envolvem participação policial. Especialistas apontam que as forças de segurança não conseguem retomar o controle territorial, enquanto o grupo segue expandindo suas operações.

 

Por Haliandro Furtado, da redação da Jovem Pan News 

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