Na reta final para a COP 30, a Amazônia ganha destaque como berço de cultura, inovação e novos modelos de desenvolvimento. No programa “De Olho na Cidade”, apresentado por Tatiana Sobreira e Jackson Nascimento a líder indígena Wanda Witoto e o empreendedor social Mascus Bessa revelaram como culturas milenares e inovação se cruzam para fortalecer comunidades, valorizar saberes ancestrais e criar oportunidades reais em um dos territórios mais desafiados e fascinantes do Brasil.
Wanda Witoto: A força da mulher indígena que costura resistência e futuro
No coração do Parque das Tribos, o primeiro bairro indígena urbano de Manaus, vivem mais de 700 famílias, 32 povos e 13 línguas, um mosaico vivo de cultura e tradição. É o Instituto Witoto, liderado por mulheres como Wanda, que atuam para fortalecer a identidade e os direitos dos povos indígenas em meio à invisibilidade e ao descaso do poder público.
“Quando a pandemia chegou, com apenas quatro máquinas de costura doadas, sete mulheres indígenas começaram a costurar máscaras. Mas logo aquilo se transformou em algo maior: o coletivo Derequine, um ateliê de moda que resgata grafismos, cores e histórias ancestrais, traduzindo nossa identidade em cada peça”, conta Wanda, em participação por ligação ao programa.
Derequine, que significa “formiga brava” na língua witoto, hoje é um símbolo de resistência, beleza e autonomia econômica.
Mas a costura vai além da moda. É também educação, espiritualidade e fortalecimento comunitário. No quintal da casa de Wanda, mais de 50 crianças aprendem suas línguas maternas e tradições ancestrais. “Sonhamos em construir a Casa do Conhecimento Ancestral, um espaço digno para nossas oficinas, rodas de conversa e produção artesanal. É ali que queremos garantir que nossos saberes não desapareçam, que nossas raízes continuem vivas e fortes,” destaca Wanda.
A força do Instituto é um convite à sociedade:
“Não é só um projeto indígena, é um movimento de todos que acreditam que outro mundo é possível, respeitando a floresta, a diversidade e a sabedoria dos povos originários.”
Mascus Bessa: Empreendedorismo de impacto para mudar o jogo na Amazônia
Também participou do programa, Marcus Bessa, co-fundador do Impact Hub Manaus, iniciativa que pulsa com a energia de mais de 300 empreendedores que querem fazer diferente.
“Cansamos de ouvir que Manaus é só potencial. A gente quer provar que aqui tem sim muita capacidade de criação e transformação”, afirma Mascus.
Para ele, a Amazônia precisa mais do que discursos: precisa de investimentos, conexões e coragem para valorizar os talentos locais. Foi assim que nasceu o FINZA que já está em sua quarta edição.
“O FINZA, nosso festival de negócios sustentáveis, é um exemplo disso. Ele vai aproximar investidores e empreendedores indígenas e amazônicos durante a COP 30, mostrando que é possível fazer negócios que respeitam o meio ambiente e fortalecem comunidades.”
Lab de Impacto
O Lab de Impacto, programa do Impact Hub Manaus, vai investir R$ 700 mil em 14 negócios da Amazônia selecionados para uma jornada de pré-aceleração focada no desenvolvimento sustentável da região. Com empresas nascidas e atuantes na Amazônia Legal, que vão desde a piscicultura até a moda indígena e biojoias, o programa oferece incentivos financeiros de até R$ 100 mil para impulsionar essas iniciativas. A seleção rigorosa envolveu avaliações técnicas, entrevistas e visitas em campo, com foco em negócios que geram impacto social e ambiental, promovendo a inovação e fortalecendo a economia local. A iniciativa conta com parcerias estratégicas e busca fomentar o empreendedorismo como motor para a preservação da Amazônia e o bem-estar das comunidades locais.
Mascus destaca o desafio de valorizar os produtos indígenas para que não sejam vistos como ‘curiosidade’, mas como arte e trabalho de valor.
“Quando a gente ajuda empreendedores como a Wanda a precificar e posicionar seus produtos, estamos ajudando a criar emprego, renda e autoestima, mostrando que a economia da Amazônia pode ser forte, diversa e inovadora.”
Em 2023, quase 15 negócios foram selecionados para participar da iniciativa, que tem como foco exclusivo apoiar empreendimentos instalados nos estados da Amazônia brasileira. Entre os selecionados estão projetos como Adubo Sustentável (Paragominas/PA), Artesanato Sapopema (Manaus/AM), Ateliê Derequine (Manaus/AM), Ateliê Yawa (Tarauacá/AC) e Bactolac (Macapá/AP), entre outros que promovem o desenvolvimento sustentável e o fortalecimento da região.
Uma nova economia nasce da floresta e da ancestralidade
A história dessas duas lideranças mostra um caminho urgente: reconhecer que o futuro da Amazônia está nas mãos daqueles que guardam sua cultura, respeitam seus saberes e querem empreender com propósito. Entre grafismos, costuras, línguas ancestrais e negócios inovadores, o Instituto Witoto e o Impact Hub desenham um modelo de desenvolvimento que une justiça social, sustentabilidade e valorização da diversidade.
Com a COP 30 chegando, fica o convite: apoiar iniciativas que fortalecem povos indígenas, impulsionam o empreendedorismo social e garantem que a Amazônia não seja só uma promessa, mas um exemplo real de futuro regenerativo para o Brasil e o mundo.
Por Erick Ortteip, da Redação da Joven Pam News Manaus.
Revisão Tatiana Sobreira