A escalada da violência inter-facções chegou às ruas de Manaus na noite desta quarta-feira (29), quando o Comando Vermelho do Amazonas (CV-AM) ordenou o fechamento da Rua São João, no bairro Compensa, zona Oeste da capital, em retaliação às mortes de integrantes da facção durante a recente megaoperação no Rio de Janeiro. Vídeos que circulam nas redes mostram confronto entre supostos criminosos e policiais militares; ao menos uma pessoa foi baleada durante o tumulto.
A mobilização em Manaus ocorre logo após a operação batizada de Operação Contenção no Rio de Janeiro, que já contabilizou mais de 130 mortos, segundo balanço recente. Na ação, deflagrada com cerca de 2,5 mil agentes entre policiais civis e militares, foram cumpridos mandados de prisão e busca em comunidades do Alemão e da Penha.
Em nota, o CV-AM manifestou pesar pela morte de 11 amazonenses durante a ofensiva no Rio, citando apelidos e nomes de faccionados que teriam morrido “como guerreiros”. A Polícia Civil do Amazonas confirmou que entre os falecidos identificados no RJ estão quatro criminosos amazonenses, cujos nomes já constam em investigação.
Nas últimas horas, além dos motins na Compensa, testemunhas relataram presença de barricadas e uso de rojões em vias próximas. Em meio ao clima de tensão, a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) mobilizou forças estaduais para reforçar a segurança e vigiar possíveis reações em outras áreas sensíveis da cidade, visando impedir que manifestações violentas se espalhem.
Além disso, em operação contínua, a Polícia Militar do Amazonas intensificou ações de repressão ao tráfico e apreensões de drogas. Apenas no primeiro semestre de 2025 foram retiradas de circulação cerca de 17 toneladas de entorpecentes, segundo dados oficiais da PMAM.
Manaus vem sendo apontada como ponto estratégico nas rotas criminosas amazônicas, alvo de disputa entre facções como CV e PCC, pois controla portos, vias fluviais e rotas de escoamento para mercados nacionais e internacionais. Um relatório recente destaca que o estado se tornou corredor vital no tráfico regional, especialmente após a fragmentação da antiga aliança entre facções.
O episódio em Manaus reafirma a interligação entre violência interestadual e presença das facções no Amazonas e evidencia o desafio das forças de segurança locais de conter reações violentas em território amazonense.
Como surgiu o Comando Vermelho
O Comando Vermelho (CV) surgiu há 54 anos no Instituto Penal Cândido Mendes, em Ilha Grande (RJ), durante a Ditadura Militar, com o objetivo de proteger presos de maus-tratos. Inicialmente conhecido como “Falange Vermelha” e liderado por William da Silva Lima, o “Professor”, o grupo evoluiu com a convivência entre presos políticos e comuns, que criaram regras internas e estratégias de organização.
Após a Lei da Anistia de 1979, o CV passou a atuar no tráfico de drogas, especialmente cocaína, e ampliou o controle sobre comunidades do Rio de Janeiro entre 1983 e 1986. Nos anos 1990, o grupo enfrentou disputas internas e o surgimento de facções rivais como a ADA e o TCP, além de uma breve aliança com o PCC, rompida em 2016.
Atualmente, o CV é a maior facção do Rio e a segunda do país, operando como uma rede hierarquizada que controla o tráfico e diversas atividades ilegais. O grupo expandiu seu domínio para o Norte e Nordeste e, entre 2022 e 2023, aumentou em 8,4% as áreas sob controle, ocupando mais da metade das regiões dominadas por facções na Região Metropolitana do Rio.
Além do tráfico, lucra com o comércio ilegal de combustíveis, ouro, cigarros e álcool, movimentando bilhões de reais. Mesmo com operações policiais constantes, o poder do CV segue em crescimento, e especialistas apontam a dificuldade do Estado em retomar territórios dominados pelo grupo.
Por Haliandro Furtado e Tatiana Sobreira , da redação da Jovem Pan News Manaus



