Açaí mantém floresta em pé e sustenta famílias quilombolas no Baixo Acará

Produção tradicional garante renda, preservação ambiental e resistência ao desmatamento na comunidade de Genipaúba, no Pará

No quilombo Genipaúba, no Baixo Acará, no Pará, o açaí é mais do que um fruto: é o eixo econômico que sustenta 130 famílias e mantém a floresta em pé. Do manejo nas áreas de várzea ao transporte para a Feira do Açaí, em Belém, a cadeia produtiva movimenta a renda da comunidade e se consolida como alternativa sustentável frente ao avanço do desmatamento na região.

O extrativista Manoel Vicente, de 55 anos, trabalha na atividade desde a adolescência e descreve os desafios diários do manejo.

“O principal desafio para nós extrativistas é subir nos açaizeiros, por conta dos riscos. Outro desafio são as abelhas, que muitos veem como problema, mas são elas que polinizam as flores. Se afastarmos as abelhas, não teremos um açaí de boa qualidade”, afirma.

Segundo ele, o fruto transformou a realidade local.

“O açaí é nossa maior fonte de renda. É com ele que compramos alimentação, mantemos o sustento da casa e conseguimos colocar os filhos para estudar.”

A produção segue o ritmo da safra, geralmente entre junho e outubro. Nesse período, os peconheiros dedicam-se exclusivamente ao açaí, chegando a arrecadar entre R$ 3 mil e R$ 4 mil por mês, com picos de até R$ 25 mil na temporada. A fruta é levada de madrugada em barcos pelo rio Acará até Belém, onde é comercializada na Feira do Açaí, evitando atravessadores e garantindo melhor remuneração.

O crescimento do mercado também impulsiona outros segmentos da cadeia, como o processamento de polpa. Em Belém, a empreendedora Lucimar da Silva Barbosa compra o fruto diretamente dos ribeirinhos. A rotina envolve etapas de limpeza, lavagem, amolecimento e peneiramento antes de chegar ao consumidor final.

Na comunidade, a entressafra abre espaço para outras atividades. A artesã Bruna Taís Trindade Costa transforma elementos da floresta em peças utilitárias e decorativas.

“Nossas peças vêm da natureza. Apenas modificamos e reciclamos o que não seria mais aproveitado”, explica.

O artesanato complementa a renda obtida com o açaí, que representa cerca de 90% do sustento das famílias. Folhas e fibras são tratadas com água quente e limão, secas ao sol e transformadas em cestos, vassouras e outros itens.

O manejo sustentável é fundamental para garantir a continuidade da atividade. O professor Hervé Louis Ghislain Rogez, da Universidade Federal do Pará (UFPA) e diretor da Embrapii Fruticultura, alerta para os impactos de práticas inadequadas. Segundo ele, a retirada excessiva de espécies da área pode causar erosão, já que as raízes do açaizeiro não retêm bem o solo. O tráfego de embarcações também influencia o desgaste das margens dos rios.

“Sem orientação, os produtores acabam fazendo manejo incorreto. Por isso, a assistência técnica é essencial”, afirma.

O açaí movimentou R$ 800 milhões em 2024, segundo o IBGE, com potencial de chegar a R$ 1,5 bilhão devido à informalidade. Para Rogez, boas práticas agrícolas podem dobrar a produtividade por pé, impulsionadas pela polinização de abelhas sem ferrão.

A combinação entre tradição, economia e conservação faz do açaí um dos pilares da bioeconomia amazônica, fortalecendo comunidades que dependem diretamente da floresta e resistem às pressões do desmatamento.

 

Com Informações do Site Infoamazonia

Por João Paulo Oliveira, da redação da Jovem Pan News Manaus