Disputa global por minerais críticos transforma fronteira colombo-venezuelana em zona de conflito

Território virou palco de grupos armados, compradores estrangeiros e exploração irregular de recursos essenciais para baterias, energia renovável e tecnologia militar

A corrida internacional por minerais estratégicos — como coltan, estanho, tântalo e elementos de terras raras — reacendeu tensões na fronteira entre Colômbia e Venezuela. Uma investigação conduzida em campo e ao longo das cadeias de fornecimento mostra que a crescente demanda global, impulsionada pela transição energética e pela indústria de defesa, intensificou disputas violentas em áreas remotas, onde grupos armados controlam territórios, exploram comunidades indígenas e degradam um dos maiores sumidouros de carbono do mundo: a região da Orinoquia.

No lado colombiano do rio Orinoco, indígenas curripacos e piaroas relatam operar sob constante ameaça de facções e intermediários internacionais. Em encontro reservado, um dos trabalhadores — identificado como Josué* — exibiu amostras de minério e explicou como funciona o processo de extração clandestina.

“Dá para ver a diferença entre as pepitas de estanho e de coltan”, disse ele, mostrando o material retirado da terra ao longo de mais de uma década.

Ele afirma que, durante anos, transportou minérios de canoa, à noite, para vendedores na Colômbia.

A valorização global dos minerais críticos alterou a dinâmica da região. Estudos geológicos já apontavam, desde o século XX, a presença dessas jazidas no Escudo das Guianas — um dos terrenos mais antigos do planeta. Mas foi apenas em 2009 que o tema se tornou explosivo, quando o então presidente venezuelano Hugo Chávez afirmou que o país possuía “uma grande reserva de ouro azul”, como chamou o coltan. Na ocasião, declarou que o minério estava ligado a conflitos internacionais e reforçou o combate ao contrabando:

“Surgiu um mineral estratégico chamado coltan. Assumimos o controle militar da área porque ele estava sendo contrabandeado para a Colômbia”.

A reação incluiu o envio de 15 mil militares à região do rio Parguaza, o que alarmou o governo colombiano. Na década seguinte, o comércio clandestino seguiu ativo, até que o decreto do Arco Mineiro do Orinoco, em 2016, destinou áreas à mineração formal. Mesmo assim, empresas estrangeiras não se instalaram, abrindo espaço para que guerrilhas colombianas assumissem o controle de distritos mineradores no sul da Venezuela. Em 2023, garimpos geridos por comunidades foram tomados com violência por membros do Exército de Libertação Nacional (ELN), acompanhados de compradores identificados como “chineses”.

“Meses depois, eles também trouxeram helicópteros; havia desastres, e estavam levando os materiais”, relatou Josué*.

A geopolítica ampliou as tensões. Com a China concentrando 91% da capacidade de refino de terras raras e impondo restrições às exportações em 2025, compradores passaram a buscar novas rotas, inclusive regiões com baixa fiscalização. O Brasil, que já mapeava jazidas desde o regime militar e possui grandes reservas de nióbio e elementos de terras raras, adotou uma estratégia de soberania e parcerias internacionais. O presidente Lula resumiu esse movimento ao afirmar: “Se eu nem conheço esse mineral e ele já é crítico, eu vou pegar pra mim”.

Enquanto países disputam minerais que alimentam baterias, painéis solares e equipamentos militares, a fronteira colombo-venezuelana vive um cenário de sobreposição de crises: avanço de facções, deslocamento forçado de venezuelanos, destruição ambiental e um mercado clandestino movido por interesses globais. A disputa por recursos essenciais para a transição energética transformou antigas descobertas científicas do século XX em o novo campo de batalha estratégico do século XXI.

 

Com Informações do Site Inforamazonia

Por João Paulo Oliveira, da redação da Jovem Pan News Manaus