A Nigéria concedeu asilo ao candidato presidencial da Guiné-Bissau, Fernando Dias da Costa, após o golpe militar que suspendeu a divulgação dos resultados das eleições realizadas em 23 de novembro. A decisão foi comunicada pelo ministro das Relações Exteriores da Nigéria.
Dias concorreu pelo Partido da Renovação Social e estava sob proteção especial na embaixada nigeriana em Bissau devido a ameaças. Segundo o governo nigeriano, ele passou a ser acolhido formalmente após avaliação de risco.
O ministro explicou que a medida foi tomada em caráter emergencial diante da crise política no país.
“A decisão de acolher o Sr. [Fernando Dias] da Costa nas instalações nigerianas sublinha o nosso firme compromisso em salvaguardar as aspirações democráticas e a vontade soberana do povo da Guiné-Bissau”, disse Yusuf Tuggar.
O candidato era o principal adversário de Umaro Sissoco Embaló, que buscava a reeleição e deixou o país após o golpe. Tanto Dias quanto Embaló afirmam ter vencido o pleito.
O golpe ocorreu três dias após a votação. Os militares suspenderam o processo eleitoral, bloquearam a divulgação dos resultados e justificaram a ação alegando a existência de um complô para desestabilizar o país. Desde então, também proibiram manifestações e qualquer atividade que possa “perturbar a paz”.
A delegação da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) esteve em Bissau para tentar mediar a crise. O grupo pediu o afastamento dos militares e a retomada da apuração dos votos. O chefe da missão comentou o clima das negociações.
“As discussões foram produtivas, mas ambas as partes expressaram suas preocupações”, destacou Alhaji Musa Timothy Kabba, ministro das Relações Exteriores de Serra Leoa.
A CEDEAO também solicitou a presença de soldados na embaixada nigeriana para reforçar a segurança do candidato. Após o golpe, o partido PAIGC relatou que sua sede foi invadida por grupos armados, e o líder da legenda, Domingos Pereira, foi preso.
Dias relatou que conseguiu fugir de seu comitê de campanha no dia da ação dos militares, quando homens armados teriam chegado para detê-lo.
A junta militar nomeou o general Horta N’Tam como líder de transição pelo período de um ano. Em reação, a CEDEAO suspendeu a Guiné-Bissau de todos os órgãos de decisão até que a ordem constitucional seja restabelecida.
As motivações do golpe permanecem incertas. Políticos da região e grupos civis locais levantaram a hipótese de que a ação poderia ter sido simulada, citando interesses relacionados ao resultado eleitoral. O ex-presidente Embaló, alvo das suspeitas, não se manifestou.
A Guiné-Bissau acumula histórico de instabilidade, com nove golpes ou tentativas de golpe nas últimas cinco décadas, e enfrenta influência militar sobre a política desde a independência, em 1974.
Com informações da BBC*
Por Haliandro Furtado — Redação da Jovem Pan News Manaus






