Como observador atento das vicissitudes econômicas que entrelaçam nossa rica biodiversidade amazônica ao tabuleiro global, não posso deixar de manifestar minha profunda inquietação perante a recente metamorfose do tambaqui (Colossoma macropomum), esse ícone piscícola da bacia amazônica, em uma commodity de projeção internacional.
Outrora confinado aos rios caudalosos e aos pratos regionais de nossa Amazônia, o tambaqui agora navega por águas transnacionais, com a China assumindo, de forma inexorável, a vanguarda na produção industrial em escala planetária. Enquanto o Brasil, berço originário dessa espécie, preserva o monopólio genético e tecnológico, cedemos terreno no volume produtivo, permitindo que uma nação distante colha os frutos de nosso patrimônio natural.
Os dados do setor aquícola, corroborados por análises especializadas, delineiam um panorama inequívoco: a China, com sua maquinaria produtiva implacável, eclipsa o Brasil em termos de tonelagem anual de tambaqui cultivado.
Essa inversão não é mero acidente geoeconômico, mas o corolário de uma estratégia asiática que absorve conhecimentos globais para dominar mercados emergentes.
Nós, brasileiros, detemos o arcabouço científico, da seleção genética à otimização de sistemas de cultivo, que poderia catapultar nossa nação à proeminência absoluta. No entanto, a ausência de uma política industrial robusta e integrada relega-nos a um papel coadjuvante, onde exportamos expertise em detrimento de riqueza tangível para nosso povo.
Essa realidade evoca, em minha memória, episódios semelhantes de apropriação indevida que enfrentei durante minha atuação na Câmara dos Deputados. Recordo-me vividamente do audacioso intento japonês de patentear o cupuaçu e o açaí, frutos emblemáticos de nossa flora amazônica, ameaçando transformar nosso legado botânico em propriedade intelectual alheia.
Diante dessa ofensiva, empenhei-me com denodo inabalável, articulando alianças e forjando um projeto de lei que não apenas salvaguardou esses tesouros, mas estendeu, de maneira preventiva, proteções a outras espécies frutíferas nativas. Assim, preservamos o direito soberano de licenciar nossas riquezas, eximindo-nos do jugo de royalties impostos por potências estrangeiras.
Foi uma vitória não apenas legislativa, mas um baluarte contra o neocolonialismo econômico que visa dilapidar nossa biodiversidade.
Ora, o caso do tambaqui ecoa esses embates pretéritos, configurando-se como um momento pivotal de luta que demanda vigor renovado e uma vontade política inexorável.
Não podemos aquiescer ante essa notícia da China como principal produtora mundial de tambaqui como se fosse uma inevitabilidade histórica ou uma derrota irremediável. Trata-se, ao contrário, de um chamado à ação: urge reverter essa dinâmica desequilibrada, fomentando investimentos em aquicultura sustentável, ampliando incentivos fiscais para produtores nacionais e fortalecendo parcerias público-privadas que elevem nossa produção a patamares globais.
Somente assim promoveremos o enriquecimento genuíno de nosso povo, transformando o tambaqui em vetor de prosperidade coletiva, em vez de mero insumo para economias alheias.
Vamos à luta! Nosso povo, com sua resiliência inquebrantável, merece colher os dividendos de nossa herança natural; nosso estado amazônico, guardião dessa biodiversidade, merece o protagonismo econômico que lhe é devido; e o Brasil, nação de potencial ilimitado, merece reconquistar sua soberania sobre os frutos de sua terra e águas.
Que essa reflexão desperte em cada um de nós o ímpeto transformador, para que a Amazônia não seja mera exportadora de ideias, mas senhora de seu destino global.






