O anúncio de um bloqueio “total e completo” a petroleiros sancionados que operam na Venezuela, feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode afetar diretamente a economia venezuelana e ampliar a crise social no país. Especialistas ouvidos pela imprensa internacional alertam que a medida tende a reduzir receitas usadas para importação de alimentos e medicamentos e pode provocar efeitos políticos contrários aos esperados pelos EUA.
O petróleo é a principal fonte de divisas da Venezuela e sustenta a maior parte das importações essenciais. Por isso, o bloqueio anunciado na última terça-feira (17/12), tem potencial de impactar não apenas o governo de Nicolás Maduro, mas também a população. Trump afirmou que o petróleo venezuelano é usado para financiar “narcoterrorismo, tráfico de pessoas, assassinatos e sequestros”, acusação rebatida por Caracas.
A decisão foi divulgada após a apreensão, pelos EUA, de dois petroleiros próximos à costa venezuelana. O governo Maduro classificou a ação como “roubo descarado” e “ato de pirataria”. Trump também declarou que a Venezuela está “completamente cercada pela maior armada já reunida na história da América do Sul”, citando o aumento da presença militar americana no Caribe.
Desde setembro, os EUA mantêm mais de 15 mil soldados na região, além do porta-aviões USS Gerald R. Ford. Washington afirma que as ações militares buscam combater o narcotráfico e acusa Maduro de liderar o chamado Cartel de los Soles, enquanto analistas apontam que a estratégia também pode ter como objetivo pressionar por uma mudança de regime.
Produção reduzida e dependência do petróleo
A Venezuela produz cerca de 1 milhão de barris de petróleo por dia, aproximadamente 1% da produção mundial, bem abaixo dos mais de 3 milhões de barris diários registrados em 1998. A queda é atribuída à má gestão, falta de investimentos, perda de mão de obra qualificada, corrupção e sanções internacionais.
Embora o impacto no mercado global seja limitado, o efeito interno pode ser significativo. Em 2018, durante o primeiro mandato de Trump, sanções econômicas agravaram a crise no país. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia venezuelana encolheu cerca de 15% naquele ano.
Para o pesquisador Christopher Sabatini, do centro de estudos Chatham House, o bloqueio pode ter um “efeito ainda mais devastador” se for mantido. Segundo ele, a expectativa do governo americano seria provocar uma ruptura interna no entorno de Maduro. “Se isso não acontecer, espera-se uma grande crise”, afirmou, destacando que parte da renda do petróleo é usada para comprar remédios e alimentos.
Dados da Transparência Venezuela indicam que 41% dos petroleiros que operavam no litoral venezuelano em novembro estavam sob sanções. Já a plataforma Tanker Trackers aponta cerca de 37 embarcações sancionadas em atividade no início deste mês.
Inflação, queda do PIB e efeitos políticos
O economista Francisco Monaldi, da Universidade Rice, avalia que o bloqueio forçará o governo venezuelano a vender petróleo com descontos maiores em canais informais. “Isso levará a uma redução da renda, desvalorização do bolívar e aumento da inflação”, afirmou. O FMI projeta inflação de 269,9% em 2025.
Especialistas também alertam para possíveis efeitos negativos para os EUA. Sabatini destaca que, se a medida não derrubar o governo Maduro, a população pode responsabilizar a oposição e Washington pela crise. O agravamento da pobreza pode intensificar a migração. Segundo a ONU, quase 7 milhões de venezuelanos já deixaram o país.
Para o economista Mark Weisbrot, do Centro de Pesquisa Econômica e Política (CEPR), “quase 90% das divisas da Venezuela vêm do petróleo”, e um bloqueio pode gerar mais pobreza e migração. “É um risco considerável para Trump”, afirmou, ao citar possíveis impactos eleitorais nos Estados Unidos.
Com informações da BBC*
Por Haliandro Furtado — Redação da Jovem Pan News Manaus






