Classificar facções como terrorismo pode expor Brasil à intervenção dos EUA

Especialistas afirmam que equiparação de crime organizado ao terrorismo abre espaço para ações externas
Operação policial no Rio de Janeiro reacendeu debate sobre proposta que equipara facções ao terrorismo - Fotos: Ricardo Stuckert / PR

O Projeto de Lei 1.283/2025, que pretende classificar facções criminosas como organizações terroristas, deve ser analisado nesta terça-feira (4), pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. Especialistas alertam que a medida pode expor o Brasil à influência e à intervenção dos Estados Unidos na América Latina.

A professora Rashmi Singh, da PUC Minas, afirmou que a expansão do conceito de terrorismo tem sido usada para justificar ações militares norte-americanas em diferentes países desde 2001. Ela lembrou que medidas semelhantes permitiram a invasão do Iraque e o uso de prisões ilegais, como Guantánamo.

Segundo Singh, a proposta no Brasil segue o modelo de política externa do governo Donald Trump, que classificou cartéis de drogas como grupos terroristas. “Essa designação tem servido para legitimar o uso da força militar e ampliar a presença dos EUA na região”, disse.

O jurista Walter Maierovitch destacou que terrorismo e crime organizado são fenômenos distintos. “O terrorismo tem motivação política; já o crime organizado busca lucro”, afirmou. Ele explicou que, no direito internacional, a Convenção das Nações Unidas diferencia as duas práticas.

O governo brasileiro tem se posicionado contra a equiparação. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, argumentou que facções criminosas cometem crimes previstos no Código Penal, enquanto o terrorismo envolve causas ideológicas e políticas.

O debate ocorre em meio à reorientação da política externa dos EUA na América Latina. Países como Argentina, Peru e Equador têm autorizado a presença de forças norte-americanas sob o argumento de combate ao “narcoterrorismo”.

No Brasil, a proposta de endurecimento contra o crime organizado é tratada em outro texto — o Projeto de Lei Antifacção — que prevê aumento de penas e integração entre forças de segurança federais e estaduais.

Por Haliandro Furtado, da redação da Jovem Pan News Manaus