A crise climática, debatida na 30ª Conferência das Partes sobre Mudança do Clima (COP 30), em Belém (PA), reúne pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) para discutir o risco de colapso climático na Amazônia. Os estudos apontam que o desmatamento, a pressão sobre biomas e o aumento da temperatura global ampliam alterações nos ciclos naturais e elevam a ocorrência de eventos extremos.
O pesquisador do Inpa e ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2007, Philip Fearnside, afirmou que o clima global se aproxima de um ponto de não-retorno, com possibilidade de colapso ambiental. Segundo ele, a perda da floresta pode intensificar emissões de gases de efeito estufa e comprometer a estabilidade climática.
“Estamos chegando a pontos de não-retorno tanto na Floresta Amazônica quanto no clima global. Caso a floresta entre em colapso, ela irá emitir tantos gases de efeito estufa que o clima planetário escaparia do controle humano, e ficaria cada vez mais quente e com mais incêndios”, alertou.
Fearnside destacou que, mesmo com a interrupção das emissões diretas, o processo se tornaria irreversível, afetando recursos hídricos, agricultura e biodiversidade.
“Entre os problemas, a mortalidade em massa, porque nosso corpo tem 37 graus de temperatura. Dá para aguentar mais um pouco com a função do suor, mas é muito limitado e com ondas de calor acima dos 50 graus, as pessoas simplesmente morrem, igual aos botos que morreram no lago Tefé (AM) em 2023 e 2024’’, afirmou o pesquisador do Inpa durante o painel ‘Ciência planetária e a Crise Ambiental’, na programação da Free Zone Cultural Action.
Durante o painel “Ciência planetária e a Crise Ambiental”, Fearnside explicou que altas temperaturas podem provocar mortalidade humana em situações de calor extremo, a exemplo do que ocorreu com botos no lago Tefé entre 2023 e 2024. Na moderação do debate, o pesquisador do Inpa Adalberto Val destacou a necessidade de articulação global para enfrentar impactos como mudanças nos rios, segurança alimentar e condições de saúde e transporte.
“É necessária uma coalizão mundial para contornarmos os impactos que as mudanças climáticas têm trazido, não apenas ao meio ambiente e aos rios da Amazônia, mas também à sociedade de maneira geral, no que se refere à segurança alimentar, saúde e transporte. A ciência, no passado, anteviu essas mudanças e, agora, oferece caminhos para mitigação”, afirmou.
A discussão também abordou o papel dos conhecimentos tradicionais. O ativista amazônico Matheus Azevedo, do Conselho Nacional dos Seringueiros e Populações Extrativistas do Pará (CNS/PA), afirmou que estratégias de enfrentamento devem integrar ciência, práticas territoriais e atuação de movimentos sociais.
“Estamos nesse alinhamento ininterrupto do conhecimento tradicional, do conhecimento científico e da luta dos movimentos sociais para podermos debater com um pé no território e outro na academia, construindo caminhos e soluções possíveis a partir de quem vive e sofre os efeitos da crise climática”, afirmou Azevedo.
Ele destacou que populações amazônicas vivem há séculos ajustando práticas ao ambiente e lidando com efeitos da mudança do clima.
“Não somos populações vulneráveis, nós somos vulnerabilizados por um sistema que insiste em dizer que nosso modo de vida não é correto. Nossas comunidades estão há séculos vivendo em harmonia com a natureza, vivendo com as florestas, mantendo seus modos de vida e produzindo resiliência dentro dos territórios, aprendendo a se adaptar com os efeitos da mudança do clima, apesar das dificuldades contínuas com a progressão da crise climática, mas, a partir também desse saber empírico desse cotidiano, estão aprendendo a resistir”, completou conselheiro do CDESS, durante a mesa redonda que reuniu a Comunidade Científica e Tecnológica da Amazônia, no Museu das Amazônias (MAZ), no complexo do Porto Futuro II.
Na mesa redonda que reuniu a Comunidade Científica e Tecnológica da Amazônia, no Museu das Amazônias, Azevedo ressaltou que as comunidades enfrentam impactos desiguais e constroem formas próprias de adaptação. Segundo ele, essa experiência deve compor a formulação de políticas e ações para a região.
A pesquisadora do Inpa e secretária nacional de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Rita Mesquita, afirmou que a restauração de ecossistemas depende da combinação entre conhecimento científico e saberes tradicionais.
“O conhecimento tradicional associado aos biomas brasileiros, com as espécies desses biomas, é fundamental para avançar na agenda da restauração. Mas a mudança do clima está impondo desafios a todas as formas de conhecimento, inclusive ao tradicional, que nasce da observação dos processos naturais”, afirmou.
Mesquita destacou que a mudança do clima impõe novos desafios para todas as formas de conhecimento e que a integração entre práticas e estudos pode orientar estratégias mais eficientes de recuperação ambiental.
Segundo Mesquita, o caminho mais promissor está na combinação das duas perspectivas. “A melhor solução será a associação do conhecimento científico ao tradicional, agregando informações sobre como diferentes espécies respondem às mudanças climáticas. Só assim será possível encontrar as melhores combinações para uma restauração eficiente”, ressaltou.
Com informações da Assessoria de Comunicação*
Por Haliandro Furtado, da redação da Jovem Pan News Manaus






