A geografia do Amazonas segue sendo um dos principais entraves para a oferta de educação de qualidade, especialmente nas regiões mais remotas do estado. Foi o que afirmou Therezinha Ruiz de Oliveira, secretária da Unidade de Gerenciamento do Programa de Aceleração do Desenvolvimento da Educação do Amazonas (PADEAN), durante entrevista ao programa De Olho na Cidade, da Jovem Pan News Manaus, nesta semana.
Apresentado por Tatiana Sobreira e Jackson Nascimento, o programa recebeu a ex-deputada e atual gestora da educação estadual para falar sobre os investimentos e desafios enfrentados na expansão da rede educacional, especialmente em comunidades indígenas e ribeirinhas.
“Nós vivemos num estado geograficamente difícil. Os problemas são multiplicados diante de outros estados que têm estradas, que têm cidades uma ao lado da outra. Aqui não é assim. Nossa maior dificuldade é exatamente chegar em todos os lugares e dar condições para que os alunos também consigam chegar até a escola”, destacou Therezinha.
Segundo ela, o governo tem buscado parcerias para superar essas barreiras, como o acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que vai viabilizar a construção de 22 escolas de tempo integral, além de seis escolas indígenas e cinco escolas da floresta, inspiradas na unidade inaugurada em São Sebastião do Uatumã, em 2024.
Educação no interior e tecnologia
Therezinha também reforçou que o governo estadual tem investido na mediação tecnológica como estratégia para ampliar o acesso à educação de qualidade no interior. O Centro de Mídias, criado no Amazonas e que ganhou destaque nacional durante a pandemia, será ampliado com a construção de três novos estúdios.
Ela ainda revelou que, para suprir a falta de conectividade nas comunidades remotas, o programa PADEAN prevê a instalação de sistemas de internet via satélite Starlink nas escolas indígenas e da floresta, garantindo conexão permanente para alunos e professores.
Cuidado com o professor e saúde mental
Durante a entrevista, a gestora chamou atenção para a carga de trabalho excessiva dos professores e os impactos na saúde mental da categoria. Com turmas cada vez maiores e demandas crescentes, muitos docentes enfrentam estresse e adoecem física e psicologicamente.
“Se o professor tem 40 horas semanais, ele lida com até 80 alunos. Isso é desgastante. Os jovens estão mais difíceis, querem mandar. Vemos muitos professores doentes. É preciso motivação, formação e respeito ao profissional”, disse Therezinha.
Inclusão escolar em debate
Um dos pontos mais polêmicos da participação de Therezinha Ruiz foi a defesa de uma revisão no modelo de inclusão de crianças com deficiências severas, especialmente no caso de alunos com autismo nível 3.
“Hoje a gente tem que rever essa questão da inclusão. Não posso incluir uma criança autista severa, sem verbalização, em uma sala comum, onde a professora já tem dezenas de alunos. Isso prejudica tanto o aluno com deficiência quanto os demais”, afirmou.
A gestora defende que o ideal é criar espaços especializados, com equipe multidisciplinar e estrutura adaptada, para garantir desenvolvimento adequado a esses estudantes, em vez de inseri-los em salas regulares sem o suporte necessário.
Therezinha compartilhou, inclusive, sua experiência pessoal como avó de um menino autista, reforçando o quanto a realidade dessas famílias exige atenção individualizada e profissionais preparados.
Projetos e parcerias futuras
Além da expansão física das escolas, Therezinha mencionou outras iniciativas, como a capacitação de professores indígenas, reforço na oferta de formação continuada, ações voltadas à saúde mental dos profissionais da educação, e parcerias com a Secretaria de Justiça (SEJUSC) e Secretaria de Saúde (SES-AM) para atendimento de alunos com comorbidades.
“Educação transforma, mas precisa de base”
Encerrando sua fala no programa, Therezinha reforçou a importância do professor como agente transformador e lembrou que é preciso garantir condições adequadas para que esse profissional cumpra seu papel.
“O professor é o grande motivador do aluno. Desde as primeiras séries, ele é o ídolo. Por isso, precisa estar bem preparado, dentro da sua área, com estrutura e motivação. A educação transforma, mas só com base e estrutura ela alcança todos.”
Por Erike Ortteip, da redação da Jovem Pan News Manaus.