O que deveria ser um ambiente de promoção da saúde e bem-estar se transformou em motivo de indignação entre profissionais de Educação Física em Manaus. Um grupo de personal trainers entregou nesta terça-feira (7/10) uma carta-denúncia à Assembleia Legislativa do Estado (Aleam) contra academias que cobram taxas abusivas para permitir o acompanhamento de alunos por profissionais autônomos. A categoria pede a criação de uma lei estadual que regulamente a cobrança e estabeleça um valor justo para o exercício da profissão.
Autor da carta e representante do movimento, o professor de Educação Física e bacharel em Direito Alex Galvão explicou, em entrevista exclusiva ao programa Minuto a Minuto Amazonas, da Jovem Pan News Manaus, que as cobranças variam de duas a dez vezes o valor pago pelos alunos nas mensalidades. Segundo ele, o objetivo é equilibrar a relação entre academias, profissionais e consumidores.
Galvão afirma que há casos em que o valor chega a R$ 10 mil, o que, segundo ele, é incompatível com a realidade da categoria.
“Pagando de cinco a dez mil reais, você financia dois ou três apartamentos, motos ou carros. É muito mais do que o que se paga num financiamento. A gente paga para trabalhar”, relatou o personal.
O profissional critica o argumento de que a taxa serve para cobrir custos de manutenção das academias. Para ele, a justificativa não se sustenta, já que o personal não gera despesas adicionais e ainda contribui para a fidelização dos alunos.
“O personal trainer leva clientes, movimenta o ambiente e fortalece o mercado. Empresário nenhum monta academia pensando no personal, e sim no consumidor”, destacou.
Proposta de lei e equilíbrio no setor
O projeto entregue à Aleam propõe equiparar o valor da taxa ao de uma mensalidade comum, o que tornaria a cobrança proporcional e transparente.
“A ideia não é extinguir a taxa, mas ajustá-la. Queremos apenas o que é justo: pagar o mesmo que qualquer aluno para utilizar as instalações”, explicou Galvão.
A proposta também faz parte da campanha “Cuide de quem cuida de você”, que busca conscientizar alunos sobre a importância de valorizar o trabalho dos profissionais que os acompanham.
Durante a entrevista, Galvão destacou que a prática atual fere o Código de Defesa do Consumidor e princípios básicos de boa-fé nos contratos.
“Cobrar valores excessivos é uma forma indireta de venda casada e uma barreira para o exercício profissional”, afirmou.
Saúde e reconhecimento profissional
Para o personal, a discussão vai além do aspecto financeiro e atinge o direito à saúde. Ele lembra que o acompanhamento de um profissional qualificado reduz riscos e garante segurança nos treinos, o que deve ser tratado como uma questão de interesse público.
“Treinar com orientação profissional é uma questão de saúde. Mas, hoje, ou o personal paga a taxa, ou não pode trabalhar”, observou.
Galvão ressalta que o mercado de academias mudou profundamente nas últimas décadas. Se antes esses estabelecimentos contavam com professores contratados, hoje a presença dos personal trainers é essencial para manter o funcionamento das unidades.
“Mesmo nas academias low cost, que cobram mensalidades de R$ 79 a R$ 150, ainda se exigem taxas elevadas dos profissionais. Não há coerência”, completou.
Encerrando a entrevista, ele resumiu o sentimento da categoria:
“Ninguém está pedindo para entrar de graça. O aluno paga pelo serviço e o personal oferece conhecimento, segurança e resultado. O que pedimos é justiça.”
Por João Paulo Oliveira, da Redação de Jornalismo