Publicado na Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde na sexta (21), o estudo também mostra o elevado consumo de ultraprocessados, como biscoitos recheados, salgadinhos e bebidas açucaradas: embora a variação anual tenha sido estável, 90% das gestantes relataram ingerir ao menos um desses produtos no dia anterior ao levantamento de dados, prevalência bem acima da média de 18% verificada entre a população brasileira.
Os pesquisadores realizaram uma análise de série temporal utilizando mais de 6,5 milhões de dados de peso e altura e mais de 319 mil registros de consumo alimentar de gestantes adultas e adolescentes cadastradas do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan). Por limitações metodológicas, não é possível relacionar diretamente o alto consumo de ultraprocessados e o aumento da prevalência da obesidade entre as gestantes. Entretanto, os autores consideram que a tendência pode ser um reflexo do consumo contínuo de ultraprocessados, que são alimentos com excesso de calorias e baixa qualidade nutricional.
O Nordeste foi a região brasileira com maior frequência no consumo de ultraprocessados por gestantes, especialmente adultas. Entre 2015 e 2022, o consumo anual de macarrão instantâneo, salgadinho ou biscoito salgado cresceu 1,8%, enquanto o de biscoito recheado, doces ou guloseimas aumentou 1,6% na região. Entre as gestantes adolescentes, o Nordeste também registrou um crescimento significativo no consumo de hambúrgueres e/ou embutidos, com um aumento de 4,6% ao ano.
Embora a alta participação de ultraprocessados na alimentação de gestantes fosse esperada, o grupo de pesquisa identificou que a variação percentual do consumo de bebidas adoçadas por gestantes adolescentes diminuiu 1% no Brasil entre 2015 e 2022, e 1,6% na região Norte. “A redução deste consumo entre gestantes é um achado inédito em nosso estudo. Tendências semelhantes já vinham sendo observadas na população adulta brasileira, especialmente pela diminuição da presença de refrigerantes nos domicílios”, conta a pesquisadora da UFC Sthefani da Costa Penha, uma das autoras do estudo.
Segundo a autora, essa mudança pode refletir os efeitos de políticas públicas e ações de educação alimentar e nutricional implementadas nos últimos anos, como a publicação da segunda edição do Guia Alimentar para a População Brasileira, em 2014, e os seus fascículos complementares.
Para a equipe, a identificação da elevada e estável prevalência de ultraprocessados na dieta e o aumento da obesidade ressaltam a necessidade de ações de vigilância alimentar e nutricional, estratégias de prevenção e programas de educação alimentar e nutricional. “Investir na qualificação e ampliação da cobertura desses registros é essencial para que se possa avançar na promoção da alimentação adequada e no cuidado nutricional das gestantes”, conclui Sthefani Costa.






