“Violência contra crianças é uma violação de direitos humanos”, afirma delegada Juliana Tuma no De Olho na Cidade

Titular da Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA), Juliana Tuma destacou o papel da rede de proteção, o avanço das denúncias e o impacto das grandes operações nacionais no combate aos crimes sexuais

Em participação no programa De Olho na Cidade, da Jovem Pan News Manaus, apresentado por Tatiana Sobreira e Jackson Nascimento, a delegada Juliana Tuma fez um alerta contundente: a violência contra crianças e adolescentes é uma grave violação de direitos humanos, e precisa ser enfrentada com empatia, responsabilidade e ação conjunta entre as instituições e a sociedade.

Titular da Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA), Juliana reforçou a importância de se enxergar essas delegacias como espaços de acolhimento e não apenas de repressão.

“ uma delegacia, assim como a DEPCA (Delegacia Especializada do Adolescente Infrator), são delegacias de proteção. A DEPCA também é proteção. As pessoas às vezes não encaram isso, mas é uma delegacia muito sensível. Você tem que ter um olhar empático. Tem que se colocar não só no lugar da vítima, mas também no do responsável. Ainda carregamos uma herança da ideia de que a criança não era sujeita de direitos”, afirmou.

Crescimento das denúncias e fortalecimento da rede

Questionada sobre o aumento no número de denúncias, a delegada confirmou que a subnotificação tem diminuído nos últimos anos, graças à atuação mais integrada da rede de proteção e ao fortalecimento da confiança da população nas instituições.

“A população tem chegado mais, tem denunciado mais. Isso tem a ver, sim, com o número de prisões, com a proximidade da comunidade com a polícia, com a credibilidade. Hoje temos mais estrutura que há 10 anos, e embora ainda insuficiente, avançamos.”

Juliana também destacou a inauguração do Centro Integrado de Atenção à Criança e ao Adolescente, considerado um marco no atendimento humanizado às vítimas, com envolvimento direto do Conselho Estadual de Direitos da Criança e do Adolescente, da SEJUSC, do Ministério Público do Trabalho e do Governo do Estado.

Operações nacionais colocam Amazonas em destaque

Durante a entrevista, a delegada exaltou a importância das operações nacionais integradas, como a Caminhos Seguros, que envolvem polícias civis, Ministério da Justiça e outras forças.

“A Caminhos Seguros foi um sucesso este ano, com muitos atendimentos, muitas prisões. Só na DEPCA, tivemos quase 200 prisões. E o mais importante: mostramos ao Brasil o tamanho da nossa luta. O Amazonas bateu todos os recordes e foi referência no cenário nacional”, declarou.

Ela reforçou que o combate vai muito além das prisões: trata-se de deixar um legado de articulação nacional e de quebra do silêncio, com discussões que não podem mais ser evitadas.

O desafio da invalidação da fala da vítima

Um dos trechos mais marcantes da entrevista foi quando Juliana relatou um caso recente de resgate em comunidade ribeirinha. A vítima, uma adolescente, só conseguiu relatar o abuso na escola, local onde se sentiu segura e ouvida. A mãe, ao ser confrontada com a situação, responsabilizou a filha.

“A invalidação da fala da vítima é um dos maiores desafios no enfrentamento dos crimes sexuais. Muitas vezes a criança ou adolescente é desacreditada dentro da própria casa. E aí o adulto que deveria proteger, se omite, e isso também é crime.”

“Vítima não destrói família”

A delegada fez questão de enviar um recado direto aos pais, responsáveis e à sociedade em geral:

“Crie um ambiente de confiança dentro de casa. Ensine que a culpa nunca é da vítima. Muitas crianças crescem com esse segredo, morrem com ele. Precisamos colocar a vítima no lugar de vítima e o autor no lugar de autor. Muitas meninas chegam culpadas, achando que destruíram a família. E não destruíram nada. Precisamos empoderar essas vítimas e responsabilizar os verdadeiros culpados.”

Caminho contínuo

Juliana Tuma encerrou reafirmando que o combate à violência sexual é constante e que não se trata de um problema exclusivo do Amazonas, mas um desafio mundial que exige união e vigilância permanente.

“Não vamos acabar com a violência do dia pra noite. Mas estamos caminhando. E a imprensa tem um papel fundamental nisso. Quando se discute, se denuncia, se responsabiliza. Isso é rede de proteção. Isso é o que faz a diferença.”

Por Erike Ortteip, da redação da Jovem Pan News Manaus.

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