Exclusivo: Presidente do Conselho da Criança fala sobre desafios e avanços na rede de proteção infantil do Amazonas

Espaço reúne, em um único local, serviços de saúde, justiça, segurança e assistência social para garantir atendimento humanizado e evitar a revitimização de crianças e adolescentes.

O Amazonas conta agora com o Centro Integrado de Atenção à Criança e ao Adolescente Vítima ou Testemunha de Violência (CIACA Lorena), inaugurado recentemente na capital. O espaço é considerado um referência nacional no acolhimento humanizado e na proteção à infância e juventude, reunindo em um único ambiente os serviços de saúde, justiça, segurança pública e assistência social.

Em entrevista ao programa Minuto a Minuto apresentado por Caubi Cerquinho, da Jovem Pan News Manaus (98.7 FM), a presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, Amanda Ferreira, ressaltou que o centro representa uma vitória parcial na luta contra a violência infantil.

A gente não venceu a guerra, vencemos uma batalha. O centro é um avanço no atendimento humanizado, mas ainda há muito a ser feito para que as crianças não sofram revitimização”, afirmou.


Atendimento integrado e humanizado

De acordo com Amanda, antes da criação do centro, as crianças vítimas de violência precisavam percorrer diferentes órgãos públicos — delegacia, IML e unidade de saúde — localizados em zonas distintas de Manaus.

Muitas famílias não tinham sequer condições financeiras de custear o transporte entre esses locais. O atendimento era fragmentado e, muitas vezes, as crianças reviviam o trauma em cada etapa do processo”, explicou.

Agora, todos os serviços funcionam de forma integrada. Assim que a vítima chega ao CIACA, é acolhida por equipe especializada e passa por registro da ocorrência, exame pericial conjunto (IML e saúde), atendimento psicológico e acompanhamento jurídico, tudo em um mesmo espaço.

Nosso objetivo é eliminar a violência institucional. A criança não precisa mais repetir várias vezes o que aconteceu, nem se submeter a múltiplos exames. O atendimento é único, completo e humanizado”, destacou Amanda.


Capacitação e monitoramento constante

As equipes que atuam no CIACA passaram por treinamentos específicos para lidar com situações de violência infantil. Segundo a coordenadora, há reuniões semanais para avaliar o atendimento e corrigir falhas.

Todos que trabalham ali foram capacitados. Criamos um comitê de crise e cada instituição fiscaliza a outra. Se a criança ou a família relata algum problema, isso é imediatamente avaliado”, afirmou.

Alta incidência de casos em Manaus

Amanda Ferreira revelou que, apenas na capital, são registrados em média 1,8 mil casos de violência sexual infantil por ano, além de centenas de episódios de agressão física.

Ainda temos números alarmantes. Recentemente, uma criança de cinco anos morreu após ser espancada. Precisamos romper o ciclo da violência e fortalecer políticas públicas de prevenção”, alertou.


Educação e prevenção como caminhos

A presidente reforçou que a prevenção passa pela educação, pela redução das desigualdades sociais e por ações conjuntas entre governo e sociedade.

Muitos adolescentes que hoje cometem violência já foram vítimas no passado. Ninguém nasce violento. É o contexto que forma. Por isso, precisamos investir na base — em educação de qualidade, assistência social e acolhimento”, enfatizou.


Homenagem à vítima Lorena

O centro recebeu o nome de Lorena, uma menina de apenas dois anos que morreu após ser espancada pelo casal responsável por seus cuidados. O caso, que chocou o Amazonas, inspirou a criação do espaço como símbolo da luta contra a impunidade e o descaso.

A Lorena representa o dever que temos de cuidar. Ela chorava, gritava, e ninguém socorria. Esse nome é um lembrete permanente de que toda a sociedade tem responsabilidade sobre a infância”, afirmou Amanda.


Por Karoline Marques, da redação da Jovem Pan News Manaus

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *