Fundação Palmares aponta avanços, mas alerta para racismo sistêmico no Brasil

Presidente da instituição destaca conquistas recentes, mas afirma que políticas de igualdade racial ainda enfrentam obstáculos
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A celebração do Dia da Consciência Negra, nesta quarta-feira (20), marcou avaliações sobre avanços e desafios na agenda de igualdade racial no Brasil. O presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge Santos Rodrigues, afirmou que o país registrou progressos nas últimas décadas, mas ainda enfrenta um cenário de racismo estrutural.

Rodrigues citou ações afirmativas, como as cotas raciais, a criação do Ministério da Igualdade Racial e a proteção de territórios quilombolas demarcados, como resultados de mobilizações de lideranças e do movimento negro. Ele mencionou figuras como Abdias Nascimento e Lélia Gonzalez, referências no debate sobre raça, educação e políticas públicas.

Ao comparar o cenário brasileiro com outros países, Rodrigues avaliou que o racismo no Brasil tem características próprias, marcadas por continuidade histórica e impacto direto na população negra.

“É um racismo sistêmico, um crime continuado, sofisticado e permanente. Ele vai encontrando fórmulas de evitar que o negro esteja vivo para usufruir dessas ações afirmativas. É o caso das chacinas no Rio, na Bahia ou em São Paulo, onde há mortandade da população negra”, disse.

A Fundação Palmares, criada em 1988, tem entre suas responsabilidades a preservação da Serra da Barriga, em Alagoas, onde funcionou o Quilombo dos Palmares. No local está o Parque Memorial, que reúne ações de memória e educação sobre resistência negra no país. Segundo Rodrigues, o Dia da Consciência Negra se consolidou como feriado nacional após articulação do governo federal e de ministérios ligados ao tema.

Ao tratar das reparações históricas e do impacto da data, Rodrigues afirmou que o processo de reconhecimento avança, mas ainda de forma lenta.

“A população negra não está pedindo nada que não seja devido. Nós construímos esta nação com trabalho, com suor, com sangue, e o Brasil é a terceira maior população negra do mundo. É devida uma série de reparações, que está sendo feita, embora não na velocidade que meus antepassados sonharam”, destacou.

Ele também informou que houve melhorias no acesso e na preservação do sítio histórico da Serra da Barriga, utilizadas por visitantes brasileiros e estrangeiros. O presidente reforçou que políticas de memória enfrentam desafios devido à ausência histórica de registros sobre diferentes grupos sociais.

Em referência à importância da documentação histórica, Rodrigues explicou que a construção da memória nacional envolve diversos segmentos sociais e requer continuidade.

“Edificar a memória do povo brasileiro não é uma tarefa simples, porque envolve a memória das mulheres, dos indígenas, da população negra, dos catadores e de participantes das revoltas de Canudos e de Malês. É tudo que foi ocultado e tratado pela política como esquecimento”, concluiu.

A secretária-executiva do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), Larissa Santiago, também avaliou que houve ampliação do debate público sobre igualdade racial. Ela relacionou esse movimento ao crescimento das políticas de educação e à ampliação das cotas em universidades e no serviço público.

Segundo Larissa, a presença de estudantes e professores negros nos espaços educacionais tem contribuído para a difusão de conhecimento sobre questões raciais.

“Significa que a gente tem uma presença. É claro que não é o ideal, e estamos trabalhando para que avance mais, mas é notória a participação de pessoas negras nas universidades, nos cursos federais e técnicos”, destacou.

Larissa afirmou ainda que desafios persistem, especialmente em áreas como saúde e segurança pública. Para ela, a dimensão territorial e social do país exige políticas integradas para alcançar a população negra em diferentes regiões.

Ao comentar o papel das políticas transversais, Larissa apontou que a efetividade das ações depende de articulação entre governos e instituições.

“Sendo a política de igualdade racial uma política transversal, a gente tem desafios nas diferentes áreas. Saúde e segurança são duas políticas de maior importância para alcançar, na ponta, a nossa população”, disse.


Com informações da Agência Brasil*

Por Haliandro Furtado, da redação da Jovem Pan News Manaus